O exercício da concepção paisagística no contemporâneo está totalmente subordinado às práticas de alienação da mão-de-obra impostas pelo mercado, afastando o arquiteto da paisagem do percurso artístico necessário à execução de espaços sensíveis. Há um claro estranhamento do profissional ao seu objeto produzido, a paisagem, visto que essa passa a ser entendida como uma mercadoria criptografada e não mais como produto de subjetividades e sentidos. O artista, afastado do seu devir, passa a ser submetido aos alcances dos softwares que limitam sua capacidade de criação, ao fim, suas habilidades em ferramentas computadorizadas acabam por determinar as formas e escolhas de projeto. Em processos de cocriação, as dinâmicas que envolvem democraticamente a população afetada são severamente prejudicadas, uma vez que a linguagem empregada se encontra encriptada e, ainda que traduzidas, esvaziam-se de significados até à execução. A prática da paisagem circunscrita por computadores e delimitada pelas paredes dos escritórios não só afasta o arquiteto da dimensão fenomenológica do espaço, como também corrobora para a segregação com o canteiro-de-obras e comunidade, influenciando negativamente nas usabilidades e funcionalidades do objeto, ao fim, exploradas pelos usuários. As angústias são ainda mais aparentes nas práticas em sala de aula, haja vista a inexperiência com os softwares, prazos e avaliações que acaba por levar os estudantes às proposições tangíveis, alheias ao tato, e não as infinitas possibilidades tridimensionais que a realidade material coloca. Debruçados sobre as críticas de Sérgio Ferro ao isolamento do “arquiteto-urbanista” acerca das práticas do saber-fazer e a “teoria da encriptação do poder” de Sanín, rompe-se a lógica “mouse, software e projeto” e promove-se a dinâmica “mãos, diálogo e gesto” como metodologia de ensino. Incorpora-se novas atribuições às tecnologias disponíveis, restringindo-as como suporte: coleta de levantamento topográfico, impressão de figuras sólidas tridimensionais, exploração de cores, formas, curvas, texturas e organicidades elaboradas coletivamente por meio do diálogo e do gesto. Por outro lado, revisita-se as ferramentas manuais que ganham com o corpo do artista a tridimensionalidade sensorial necessária à concepção. Como objeto de amostra, buscou-se criar um parque-escola no município de Caeté (MG), em uma área de relevância histórica para Minas Gerais, dotada de prédios arruinados de antigas indústrias de cerâmica, valendo-se de maquetes tridimensionais em escala, miniaturas de vegetação e artefatos manuais produzidos durante as discussões para nortear o processo de elaboração da paisagem sem afastar-se do devir artístico e coparticipação ativa de todos os agentes envolvidos: os quinze alunos de uma classe e dois professores inscritos na Oficina de Planejamento Municipal da Escola de Arquitetura e Design da Universidade Federal de Minas Gerais. O processo é iniciado com a pesquisa de território, realizada ora com visitas in-loco, ora com escutas e relatos daqueles que já estiveram e registraram suas histórias. As demandas engajam o professor a sugerir temas e abordagens aos alunos que, apontados os lápis, iniciam as proposições. Inicialmente, as ideias e desejos são traduzidas em imagens seriais, com ou sem comprometimento com escalas, formas ou ações, e muito mais com abordagens da paisagem, bem como texturas e histórias. As rodadas de orientação são, então, intercaladas com tomadas sobre os elementos da paisagem necessários para as realizações dos projetos. Por se adaptar a demanda dos alunos, as exposições complementam e amarram as execuções. Os papéis são sobrepostos, comparados, recortados e colados até que se encaixem nas serras mineiras e nos símbolos de Caeté. E não são poucos. Assim, os alunos (distantes dos monitores) se expressam com o verbo e o traço, exploram perspectivas e contrastes, complementando um e outro no tato e audição.