No texto aborda-se a bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul e seu uso por mais de 14 milhões de pessoas em três estados. Enfatiza-se seu baixo curso, menos priorizado em momentos críticos de escassez, devido à competição com grandes áreas metropolitanas. Diversas intervenções já alteram visivelmente a paisagem da foz, impedindo ou dificultando outros usos, incluindo os de recreação, harmonia paisagística e navegação fluvial. Diante de recorrentes conflitos e degradação ambiental, a concessão de outorga para uso da água foi criada para regular e proteger esse bem. Dentro deste contexto, o Complexo Portuário do Açu detém uma outorga preventiva que permite a captação de uma considerável quantidade de recurso hídrico, apresentando-se como um dos principais consumidores da região. Com o foco da Teoria Crítica, analisa-se as relações de poder na produção do espaço, considerando aspectos físicos e sociais da paisagem. A partir da contribuição da Análise do Discurso, discute-se a contradição entre imagens de abundância e de escassez. Defende-se que a posse de outorgas de reserva se soma a um discurso de grande disponibilidade hídrica, o que pode moldar expectativas de desenvolvimento e o planejamento da paisagem. Além disso, a demanda hídrica do megaempreendimento ainda parece subdimensionada.