É por meio das artes que o ser humano se conhece e reconhece-se como ser histórico. A literatura é uma das artes que relembram ao ser humano, em sua particularidade, fatos do seu passado, presente, e dialogam também com o futuro. É o que se pode observar em muitas manifestações literárias de diversas culturas e países. Este trabalho, de natureza qualitativa e exploratória, debruça-se sobre a leitura e investigação de texto literário do eixo sul global, tendo em vista as produções de países africanos de língua portuguesa, mais especificamente Moçambique, com foco no ser humano marcado pelo processo de colonização e seu reflexo no que diz respeito às relações interpessoais e de pertencimento ao território. A partir de uma análise crítica, este estudo tem a finalidade de analisar o conto “O padre surdo”, da obra Estórias abensonhadas (2012), de Mia Couto, acerca das temáticas: crítica religiosa e resgate da identidade cultural. A análise parte do aspecto mítico/imaginativo do conto, destacando, na narrativa, a forma crítica de construção do enredo, a diversidade e os conflitos do cotidiano dessa sociedade retratada, que está em busca da construção de uma identidade múltipla cultural. Entende-se que o narrador, portanto, ao mesmo tempo que denuncia alguns aspectos da religiosidade do homem branco, faz um resgate do aspecto identitário da cultura moçambicana. Como fundamentação teórica dessa pesquisa, levou-se em consideração os estudos de Campos (2009), Cunha (2012), Silva (2016) e Zilly (2000).