A violência contra pessoas idosas, sobretudo contra as mulheres, interseccionalizada pela cor da pele, se manifesta de diversas formas, sendo a maioria normalizada no cotidiano das vítimas. O objetivo deste estudo é apresentar as vivências de violências sofridas por um grupo de mulheres pretas e pardas moradoras de comunidade na capital paulista. Para tanto, foram utilizadas as transcrições de entrevistas semiestruturadas realizadas com 58 idosas pretas e pardas durante os meses de março a maio de 2023. O roteiro usado foi a Escala Vulnerability to Abuse Screening Scale, adaptada e validada para o Brasil, porém a pesquisa não se limitou à aplicação desta, já que as idosas puderam expressar livremente seu modo de vida, como também sobre o que pensam e como se sentem em cada situação descrita pela escala. As doze perguntas da escala são divididas em quatro domínios: vulnerabilidade, dependência, desânimo e coerção. No primeiro e segundo domínios, relatos relacionados ao medo e desconfiança de familiares e ao uso de drogas lícitas e ilícitas por estes são narrados. Já no terceiro, algumas idosas afirmam sentirem-se tristes com frequência. Questões como a solidão, dor, saudades, acontecimentos passados ou até uma angústia aparentemente inexplicável são citados. No quarto domínio, situações como familiares que dizem que a idosa está doente quando não está, parentes que restringirem a idosa à cama sem necessidade, a forçam a fazer algo contra a sua vontade e retiraram-lhes pertences sem permissão são evidenciados. Nelas, o filho parece como principal autor. Dessa forma, nota-se o quanto a violência afeta a vida de algumas destas idosas e que somente a aplicação da escala, sem a escuta dos relatos, não é capaz de transmitir a complexidade que a violência contra a idosa preta ou parda se manifesta, nem o quanto é necessário que seja combatida.