O estudo, em andamento, se dedica a compreender as representações da velhice na obra Ninguém Escreve ao Coronel, de 1958, do colombiano Gabriel García Márquez (Gabo). Trata-se de uma segunda experiência em que Literatura e Gerontologia se conectam para comunicar sobre objetos que lhes conferem identidade. Nessa perspectiva, narrativa, personagens, espaço e tempo são os elementos explorados no livro e a partir dos quais se desvela um conjunto de categorias sociológicas interessantes ao campo gerontológico, tais como solidão, ninho vazio, aposentadoria, cuidado, pobreza, saúde/doença, autonegligência e finitude. Circunscrito no âmbito da abordagem qualitativa e ancorado na Teoria das Representações Sociais, situamos os personagens protagonistas, um casal de pessoas idosas chamados na obra de Coronel e Mulher, ambos sem nomes próprios, que vivem e convivem a velhice, fruto de uma trajetória de 40 anos de casados. A velhice é, portanto, a fase em se expõe o cotidiano dos cônjuges, ora pela voz destes, ora por um narrador onisciente, que nos relata espontaneamente sentimentos e tangibilidades, permitindo a percepção da dimensão tempo – a exemplo do decurso da velhice; e, sendo ele um veterano de guerra, da espera pela aposentadoria, a ser noticiada por uma carta aguardada há 15 anos – e do espaço, dimensão onde ocorrem os fatos e onde os personagens se movimentam: a cidade; a casa; e outros ambientes que se interligam à narrativa. É, assim, ante a tais entremeios que os inúmeros dramas e as tramas são experienciados pelas personagens, permitindo a discussão sob o viés gerontológico. Seguindo os trilhos do universo ficcional de Gabo, sob o amparo das representações sociais, a investigação vem discutindo a heterogeneidade da velhice que se descortina no campo da produção do autor, sublinhando as identidades sofridas e/ou oprimidas que atravessam a sua escrita.