Um currículo proposto para uma rede de ensino precisa contemplar diversas realidades socioculturais, e as escolhas que permeiam essa construção se dão num território instável de disputas de diversas ordens. No entanto, os docentes parecem não problematizar aspectos culturais e ideológicos presentes na elaboração desses textos, desconsiderando questões que influenciam diretamente a sua prática. Esse distanciamento nos leva a crer que os professores estão mais próximos de uma visão tradicional de currículo. Essa visão tradicional é muitas vezes induzida por práticas político-institucionais reguladoras da aprendizagem, formuladas por diversas redes e reforçadas através da veiculação de índices educacionais diversos (especialmente aqueles vinculados a avaliações externas). Um dos objetivos específicos de minha pesquisa de doutorado foi conhecer a concepção de currículo dos professores de língua portuguesa da rede estadual de Pernambuco. Para isso, aplicamos questionários online de junho a setembro de 2018, tendo como respondentes professores de língua portuguesa do Ensino Médio da rede estadual de Pernambuco. Os formulários foram criados no Google Formulários e compartilhados em redes sociais. Em termos teóricos, retomamos a classificação das teorias do currículo de Silva (2003), que as organiza em três grupos: tradicionais, críticas e pós-críticas. Realizamos uma análise temática dos enunciados dos docentes, contabilizando-os de acordo com a presença dos temas, segundo a Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2011). Após a análise temática, concluímos que maioria das respostas direcionam-se para uma concepção predominantemente tradicional de currículo, pois ao considerar, na maioria das vezes, o documento oficial como um orientador da prática pedagógica, os docentes tendem a reduzir o papel do documento oficial a um conjunto de prescrições para a elaboração do planejamento.