O texto que se apresenta estabelece aproximações entre a literatura infantil e a geografia, no que se refere à relação entre estes campos de saberes a partir da análise de duas narrativas de caráter geográfico orientadas à criança leitora do período compreendido entre o final do século XIX e início do século XX: a Geografia de Dona Benta (1935) de Monteiro Lobato e o Le tour de la France par deux enfants, de G. Bruno (1877). O objetivo do estudo reside na discussão das aproximações e distanciamentos entre as narrativas em alguns de seus aspectos mais relevantes, como o da criação de identidades nacionais, ao que se justapõem outros temas afins. Como referencial metodológico apresenta-se o paradigma indiciário, que aponta para a ideia de que há indícios em um texto que revelam particularidades negligenciáveis, como saberes que desempenham papel relevante na compreensão da visão de mundo dos autores. A hipótese a ser perseguida reside na ideia de que Monteiro Lobato tenha se inspirado no livro francês como suporte para o desenvolvimento da sua narrativa, dadas as semelhanças de enredo e de tramas entre os textos, além das similitudes entre os conteúdos de referência aos campos da educação e da geografia. O estudo que se apresenta recupera um tipo de escrita que inaugura para a infância uma literatura que se pode considerar de itinerário, unindo literatura e geografia de um modo jamais visto na escrita textual orientada à criança no ocidente.