A narrativa O filho do vento (2009) do escritor angolano José Eduardo Agualusa perpassa o universo infantil com a simbólica tradição africana, recuperando o contexto que envolve o ato significativo e enriquecedor da “contação” de histórias. Nesse caminho, a memória dos antepassados é revivida pela composição lendária da qual a obra se constitui em uma aprendizagem metafórica do personagem Kuan-Kuan no decorrer do enredo. Desse modo, busca-se refletir, a partir do rol de experiências vivificadas pelos personagens infantes, sobre os traços da tradição africana presentes na prosa aludida, analisando, assim, os aspectos que aqueles elementos produzem na construção de uma identidade africana no texto. Para tanto, recorre-se a leitura do panorama da tradição africana através das letras do malinês Amadou Hampâté Bá (1970), bem como a representação do infante nas narrativas africanas pelas análises da estudiosa Tania Macêdo (2008), entre outros referenciais que auxiliam na compreensão da construção do ser infantil vivificado no texto de Agualusa em diálogo com os elementos da tradição. Concepção essa que é sugerida, inicialmente, pela ligação efetivada entre o contador- narrador e o ouvinte-leitor de forma que a personagem infantil é construída à proporção que a história é narrada, isto é, à proporção que o “monandengue”, criança na língua Kimbundu, entrelaça-se aos elementos simbólicos da natureza como “filho do vento”, enfim liga-se ao corolário da tradição africana pelas letras de Agualusa.