A DOCÊNCIA SOB O OLHAR DOS LICENCIANDOS DA DISCIPLINA TECNODOCÊNCIA LUCIANA DE LIMA/ luciana@virtual.ufc.br / UFC GABRIELA TELES/UECE DEYSE MARA ROMUALDO SOARES/UECE Eixo Temático:Educação, linguagens, tecnologias e valores - com ênfase em referenciais, metodologias e práticas na formação humana na perspectiva emancipatória. Esse trabalho apresenta o objetivo de descrever como os licenciandos matriculados na disciplina Tecnodocência, nos semestres 2016.2, 2017.1 e 2017.2, compreendem a Docência. Em um contexto que, segundo Kenski (2007), é marcado por transformações nos modos de compreensão e de ação sobre o mundo, diante do avanço tecnológico, observa-se a necessidade de que sejam desenvolvidas reflexões quanto ao modelo de Docência historicamente estabelecido. Diante de discentes, digital natives, conforme enfatizado por Lima e Loureiro (2016), o docente experimenta a demanda pelo repensar da sua ação, entendendo-se que não cabe mais a tese de que o professor é o detentor do saber, que tem como incumbência, transmiti-lo. Veiga (2006) ressalta que a Docência se constitui como uma construção coletiva, enquanto Tardif e Lessard (2011) a reconhecem como um trabalho interativo, ocorrendo de um com o outro, e não de um para o outro. Nesse sentido, seguir tendo como base somente o modelo estabelecido há séculos, desconectado das mudanças pelas quais a sociedade tem passado, parece ser algo direcionado ao fracasso, ou como afirma Sibilia (2012), ao óbito. Compreende-se que a formação docente precisa ser repensada, no sentido de que os sujeitos sejam mobilizados a conhecerem e experimentarem, na teoria e na prática, diferentes possibilidades de fazer docente, inclusive no que se refere à integração com as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs). Para tal, considera-se pertinente acessar e refletir sobre os conhecimentos prévios que os licenciandos apresentam em relação à Docência, inclusive para o planejamento, execução e avaliação de estratégias didático-metodológicas que favoreçam o desenvolvimento de uma formação docente integrada ao contexto dos sujeitos e ampliadora de possibilidades. A modalidade de pesquisa utilizada foi o Estudo de Caso, que é considerado pertinente quando o investigador parte de questionamentos do tipo como ou por que, e tem como objetos de análise fenômenos contemporâneos sob os quais não se têm controle (YIN, 2005). A pesquisa foi subdividida em planejamento, coleta e análise de dados. Na primeira etapa, foram produzidos os protocolos e os instrumentos de coleta e de análise. Os dados foram coletados por meio do acesso e download às respostas elaboradas pelos licenciandos ao questionário de sondagem, nos semestres analisados. Salienta-se que o referido questionário é composto por vinte e oito (28) questões, sendo doze (12) relativas ao perfil dos sujeitos e dezesseis (16) relacionadas aos conceitos abordados na disciplina. Para a presente pesquisa, foram coletados os dados das doze (12) questões do perfil dos licenciandos e a questão número oito (8) dos conceitos, constituída pela seguinte pergunta: "O que é Docência?". Tal instrumento é preenchido pelos licenciandos na primeira aula da disciplina Tecnodocência, não sendo autorizada a realização de pesquisas, de maneira que o objetivo da atividade é acessar aos conhecimentos prévios dos sujeitos sobre os elementos que compõem a disciplina. Na etapa referente à análise foi desenvolvida a triangulação de fontes de dados, de maneira que as respostas produzidas nos três semestres foram verificadas e comparadas, no sentido de compreender como os licenciandos, nos períodos analisados, percebiam a Docência. Destaca-se que a disciplina Tecnodocência é ofertada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), desde 2015, tendo como foco a produção de reflexões teóricas e práticas quanto ao processo de integração entre Docência e TDICs, fundamentando-se no Construcionismo, na Filosofia da Diferença, na Teoria da Aprendizagem Significativa, na Teoria de Fluxo e na Interdisciplinaridade. Os licenciandos são mobilizados a planejarem, executarem e avaliarem situações hipotéticas de aula com alunos de escola pública, a partir dos fundamentos da Tecnodocência (LIMA, 2017). Com relação ao público que compôs a presente pesquisa, foram considerados os dados dos setenta e um (71) respondentes. Verificou-se que destes, a maioria (56,3%) é do sexo masculino e está na faixa etária de 21 a 25 anos (49,4%). Considerando-se que a disciplina se pauta na Interdisciplinaridade, foi observada a existência de doze (12) diferentes cursos de licenciatura, a saber: Química (31,0%); Letras (23,9%); Matemática (11,4%); Ciências Biológicas (8,5%); Pedagogia (5,6%); Música, Física e História (4,2% cada); Filosofia (2,8%); Dança, Ciências Sociais e Teatro (1,4% cada). Sobre os semestres em que os licenciandos estavam matriculados no momento da disciplina, constatou-se que a maioria (40,9%) estava entre o 7º e o 9º semestres, seguido por 25,3% que estavam entre o 4º e o 6º semestres; 18,3% que cursavam entre o 1º e o 3º semestres; e 15,5% que estavam acima do 9º semestre. O referido cenário sinaliza que os sujeitos participantes da pesquisa se encontravam em semestres avançados, sendo configurados como veteranos. A partir do desenvolvimento da pesquisa obteve-se que, majoritariamente, os licenciandos percebem a Docência como prática de ensino, desenvolvida pelo professor, que transmite conhecimentos aos alunos. Nesse sentido, o papel dos alunos consiste em absorver o que o professor transmite, perspectiva que corrobora com o modelo de Docência estabelecido e praticado historicamente, conforme enfatiza Sibilia (2012). Tal compreensão esteve presente nas respostas de quarenta e quatro (44) sujeitos. Entretanto, doze (12) licenciandos reconheceram a Docência como trabalho que deve ser permeado por métodos e técnicas, atrelando-se às considerações de teóricos como Tardif e Lessard (2011). A ideia da Docência como construção, também apareceu, porém de maneira menos expressiva, por meio das considerações de cinco (5) respondentes. O entendimento do fazer docente como sendo permeado pela interação, em que professores e alunos devem compartilhar conhecimentos, foi visualizado em dois semestres, a partir das respostas de cinco (5) licenciandos. Dessa forma, percebe-se que a concepção dita tradicional de Docência ainda impera, considerando-se pertinente enfatizar que a maioria do público investigado estava em processo de finalização de curso (entre o 7º e o 9º semestres). Nesse sentido, entende-se a relevância de que sejam desenvolvidas mudanças no processo de formação docente, de modo que os sujeitos sejam inquietados, tendo condições, teóricas e práticas, de questionar o modelo de Docência e se defrontar com outros modelos. Ressalta-se a pretensão de dar prosseguimento à pesquisa com a oferta da disciplina Tecnodocência nos semestres subsequentes. Palavras-chave: Docência, Licenciandos, Tecnodocência Referências KENSKI, Vani Moreira. Educação e Tecnologias: O novo ritmo da informação. Campinas: Papirus, 2008. LIMA, Luciana de. Tecnodocência: integração entre Tecnologias Digitais e Docência na Formação de Licenciandos. In: CHAGAS, Fundação Carlos. Prêmio Rubens Murillo Marques 2017: Experiências docentes em licenciaturas. São Paulo: FCC, 2017, p. 105-132. LIMA, Luciana de; LOUREIRO, Robson Carlos. O desenvolvimento de Materiais Autorais Digitais Educacionais na compreensão de Licenciandos sobre Docência em contexto Interdisciplinar. In: WORKSHOP DE INFORMÁTICA NA ESCOLA, 22., 2016, Uberlândia XXII. Anais WORKSHOP DE INFORMÁTICA NA ESCOLA. Uberlândia: Editora Workshop de Informática na Escola, 2016. SIBILIA, Paula. Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012. TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis: Editora Vozes, 2011. VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Docência universitária na educação superior. In: RISTOFF, D; SEVEGNANI, P. (org). Docência na Educação Superior. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006. YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2005.