Tem-se tornado frequente identificar certa confusão, em relação aos processos que envolvem o "ensinar" e o "aprender", de forma que ambos sejam percebidos como sendo apenas um, ou ainda, como se no ato de ensinar algo a alguém fosse garantia para que o aprendizado se efetivasse. Utilizaremos esse texto para fazer uma discussão acerca da questão acima apresentada de forma a deixar claro ao leitor que, a nosso ver, os atos de ensinar e de aprender constituem processos distintos, complexos e que se inter-relacionam. Todavia, nesse trabalho, pretendemos apresentar o resultado de uma pesquisa bibliográfica, com intuito de oportunizar reflexões e possíveis discussões a partir dos escritos de Vygotsky (1998, 2007) que compreende e defende os processos de ensino e de aprendizagem na perspectiva sociointeracionista. Por se tratar de uma pesquisa de cunho bibliográfica, que priorizou a discussão teórica da temática em tela, a estratégia metodológica compreendeu a análise documental, uma vez que o processo de obtenção de informações é fundamental e pode ser realizado por meio da utilização de três procedimentos, que são considerados fontes primárias e secundárias, quais sejam: a pesquisa documental, a pesquisa bibliográfica e os contatos diretos (LAKATOS e MARCONI, 1990; LÜDKE e ANDRÉ, 1986). Assim sendo, inicialmente reconhecemos que são várias as teorias psicológicas que tentam explicar como se dá o desenvolvimento do raciocínio do ser humano, logo, dos processos que subjazem ao conhecimento, à aprendizagem, a saber: Inatismo, pressupõe que os seres humanos já nascem dotados biologicamente para falar e que a linguagem se desenvolve de forma natural em crianças; Empirismo, seguem a linha de que o conhecimento se dá por meio da absorção do mundo externo; e Construtivismo, defende que o sujeito tem todas as características e potencialidades próprias, todavia, o mesmo depende do meio em que vive para concretizar tal desenvolvimento (SANTOMAURO, 2010; WADSWORTH, 1993). Para além da discussão acerca dos processos de ensino e de aprendizagem na perspectiva sociointeracionista trataremos de contextualizar nossas reflexões no âmbito dos processos pedagógicos desenvolvidos junto aos estudantes surdos. Partiremos do pressuposto de que a sociedade é formada por grupos e que cada grupo humano é composto por diferentes hábitos, diferentes culturas, entretanto, todos têm a linguagem como sistema simbólico básico, que por meio deste, permeia as relações sociais (COSTA, 2015; NICOLLI et al, 2013). Para tanto, iniciaremos apresentando uma breve contextualização da educação especial na perspectiva da educação inclusiva, para podermos falar sobre aquisição e desenvolvimento do pensamento e da linguagem e, depois, discutiremos questões que envolvem o desenvolvimento da aprendizagem e a complexidade que se faz presente na atuação profissional no âmbito do atendimento que deve ser garantido aos estudantes surdos. Nesse caso, partiremos do pressuposto das três filosofias educacionais para surdos: oralismo, visa ensinar o surdo a falar por meio de técnicas específicas; comunicação total, nesta, o surdo deve aprender a língua oral para se comunicar com ouvintes, entretanto sem perder os aspectos cognitivos, sociais e emocionais; e o bilinguismo, visa a comunicação tanto por meio da língua de sinais quanto por meio da língua oral de seu país de origem tendo essa última como segunda língua (GOLDFELD, 2002). Ante o exposto inicialmente ressaltamos que em tempos presentes, onde o currículo sofre com transformações, ensinar tem se tornado um grande desafio e tomar consciência do fato que o ato de ensinar não implica em um imediato aprendizado pode ser alternativa para reorganizarmos os processos desenvolvidos e considerarmos, com mais propriedade, a possibilidade da teoria proposta por Vygotsky como possibilidade para viabilizarmos processos mais significativos. Então, tem que se reconhecer que como principais considerações, no que se refere aos processos de ensino e aprendizagem, o mesmo só será desenvolvido pelos estudantes, sejam eles surdos ou não surdos, se lhes forem proporcionadas oportunidades para testar, questionar e argumentar, tendo em mente que neste processo, o papel do professor é fundamental, pois é ele quem irá proporcionar momentos adequados para o exercício da argumentação, da socialização entre os alunos, do Interacionismo. Caso contrário, se forem privados de tais meios, os estudantes, em especial os surdos, terão déficit de aprendizagem, pois como já discutido, os mesmos adquirem um atraso de linguagem. Palavras-chave: Educação de Surdos, Ensino e Aprendizagem, Sociointeracionismo Referências COSTA, J. S. Ensino de Química e a Inclusão de Surdos Numa Perspectiva Sociointeracionista. 2015. 74f. Trabalho de conclusão de curso (Licenciatura em Química) - Universidade Federal do Acre, Rio Branco, 2015. GOLDFELD, M. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sociointeracionista. - 5. ed. - São Paulo: Plexus Editora, 2002. LAKATOS, E.; MARCONI, M. A. Metodologia científica. 2. ed. Atlas: São Paulo, 1995. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. NICOLLI, A. A. ; OLIVEIRA, O. B. ; CASSIANI, S . A linguagem na educação em ciências: um estudo a partir dos enpecs. In: Suzani Cassiani; Claudia Regina Flores. (Org.). Tendências contemporâneas nas pesquisas em educação matemática e científica: sobre linguagens e práticas culturais. 1. ed. Campinas: Mercado de letras, 2013, v., p. 67-82. OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-histórico. 4. ed. São Paulo: Scipione, 1997. SANTOMAURO B. Inatismo, empirismo e construtivismo: três ideias sobre a aprendizagem. In: Nova Escola. Edição 237, novembro de 2010. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/inatismo-empirismo-construtivismo-tres-ideias-aprendizagem-608085.shtml?page=2n. Acesso em 10 de dezembro de 2015. SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 8. ed. Rio de Janeiro: WVA, 1997. p. 180. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. ______. Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. WADSWORTH, B. J. Inteligência e Afetividade da Criança na Teoria de Piaget. 5. ed. São Paulo: Pioneira, 1996.