Nesta pesquisa objetivamos discutir as concepções de mulher, partindo da análise do discurso dominante no Brasil do final do século XIX e início do XX. Para tanto, questionaremos a constituição do modelo normativo de família burguesa e o projeto educacional republicano. No início da República, destaca-se a importância que o discurso dominante atribui as mulheres, conclamadas a formar os cidadãos, concebidas enquanto “regeneradoras morais da sociedade”. Nesse momento, ganha relevo a necessidade de uma educação feminina, visando preparar a mulher para ocupar o lugar social a ela reservado. Lugar circunscrito ao espaço doméstico no qual desempenharia o papel de esposa e de mãe abnegada. Utilizaremos como referencial teórico metodológico as contribuições da Análise do discurso de origem francesa (AD) filiada a Pêcheux. Segundo esse referencial, o discurso é entendido como prática social, cuja constituição resulta da relação entre língua, história e ideologia. No desenvolvimento da pesquisa retomaremos as Condições de Produção do Discurso sobre a mulher e a educação feminina, por meio do estudo da conjuntura sócio-histórica do período estudado. Consideramos que as relações de gênero estabelecidas na conjuntura de ascensão da burguesia articulam-se a uma concepção de família, que contribuirá para delimitar um lugar social das mulheres atrelado aos interesses dominantes, impondo um modelo normativo que servirá aos interesses da elite, voltados para a disciplinarização do povo e a consequente manutenção da ordem. A análise do discurso dominante sobre a mulher e a educação feminina possibilitou compreender e discutir o projeto político-educativo vigente no Brasil, no final do século XIX e início do XX, e as suas repercussões para a produção de processos de naturalização da concepção de mulher, assentada na ideologia patriarcal. No âmbito desses processos, é constituída a ideologia da domesticidade e da maternagem que marca os processos de identificação e subjetivação de mulheres e homens ao longo da história.