A população mbyá, nominada também como Guarani- Mbyá representa atualmente junto aos mapuches do Chile e quechuas que distribuem-se pela região andina, as populações ameríndias mais numerosas e conhecidas da América Latina. O presente estudo é parte da tese de doutorado concluída em abril de 2016, porém tem uma origem anterior, parte de minha convivência de dez anos com famílias guarani da região sudeste do território brasileiro e sul argentino e paraguaio. A pesquisa concentra suas análises nas populações mbyá localizadas no estado do Rio de Janeiro; mais particularmente, nos processos de escolarização ocorridos na aldeia de Itaxim e Arandu Mirim, também conhecida como terra do Saco de Mamanguá, assentadas no município de Paraty, Rio de Janeiro. Estudo as formas de sociabilidade e a relação com a escolarização presente em seus territórios, especialmente a relação com o sagrado -- o corpo físico e o corpo espiritual guarani, que interpenetram as concepções de escolarização e interrogam as atuais políticas de currículo nacional, específicas e diferenciadas. As escolas indígenas na região permanecem a maior parte do tempo inutilizadas, devido uma série de elementos que não se justificam apenas pela falta de contratação de professor, como tentarei demonstrar ao longo deste artigo. Argumento que a escolarização guarani está relacionada à cosmologias e seres intangíveis, “sobre-humanos”, que com auxílio dos autores indígenas (BANIWA, 2011; BENITES, 2012; ALBERT E KOPENAWA, 2010; S. BENITES, 2015) e teorias que problematizam a escolarização (BASTOS LOPES, 2014, 2016; MACEDO, 2013, 2014) como espaço de diferença, alteridade, tentarei abordar nesta comunicação.