Nesse artigo ouso sugerir um exercício de alteridade. Falo como mulher do semiárido paraibano, que se utiliza de memórias, e se coloca no lugar de “outras” mulheres, para narrar experiências de vida que vi/vejo, ouvi/ouço, vivi/vivo, e hoje vejo-me seduzida a escrever sobre. Para tanto, abro três mo(vi)mentos que são coextensivos; 1- a partir de entrevistas orais, desenvolvidas em uma pesquisa monográfica, me permito falar com mulheres e homens que habitam o semiárido paraibano, e me contam sobre suas vivências, violências e resistências; 2- me aproximo de documentos produzidos pela Articulação do Semiárido Paraibano (ASA), para perceber possíveis correlações entre políticas públicas que adentram o semiárido, e as transições nos papéis e identidades de gênero que põem em questão configurações naturais de feminilidade; 3- partindo da análise de discursos, retomo sugestões, alternativas e ações políticas, geradas em grupos coletivos de convivência, para entender novas habitações e “escritas de si”, que vem emponderando mulheres feitas de sisal, de fibra forte, resistente ao sol da caatinga, e ao aço do concreto. Nesse sentido, esse texto se faz otimista e usa como estratégia o desmonte dos artefatos culturais que exigem rígidas e estereotipadas identidades, para mulheres e homens do sertão. Identidades por vezes manchadas com pactos de sangue, por meio de relações violentas e dolorosas que alimentam o “papel do macho” e o “lugar da fêmea”, perseguindo o que sai da norma, e matando potências de vida.