A expressividade do ser humano através da linguagem simbólica do corpo se manifesta de diversas formas, tanto por meio de sua própria forma, disposição, função, composição; seja de modo consciente ou inconsciente, criativo ou induzido, quanto inclusive por sintomas de doenças. Mais especificamente como sistema linguístico, a criatividade humana desenvolveu diferentes sistemas de escrita, assim como, na ausência do acesso aos sons da fala oral, povos criaram línguas visuais, como o caso das pessoas surdas. O presente trabalho, que se desenvolve a luz de conhecimentos metalinguísticos e da filosofia junguiana, além de ideais tibetanos, objetiva partilhar algumas experiências com a Dança Meditativa de Tara realizadas, em sua maioria em Fortaleza-CE, com mulheres surdas e/ou deficientes auditivas, juntamente com mulheres ouvintes, cujas culturas se distinguem pelo modo de apreensão do mundo. Tradicionalmente, a dança é associada ao som, à música. Isso direciona o olhar da sociedade ouvinte à arte de dançar como se fosse exclusiva de seu grupo, além do mito de que os surdos vivem em profundo silêncio e que não falam, apenas usam um conglomerado de pantomimas e gestos. Por ser a Dança de Tara uma modalidade de dança circular, ela proporciona a visualização de uns aos outros – nuance própria do modo de ser surdo – e promove a saúde, através dos seus efeitos terapêuticos e com seus movimentos, mudras e expressões faciais. Assim, fazendo analogia com as características das línguas de sinais, escrevi as Cartas das Qualidades Iluminadas, como um modo de facilitar a memorização das mulheres ouvintes e de incluir as mulheres surdas nas práticas de Dança das 21 Qualidades de Tara, em Fortaleza-CE. Tal dança ritual é baseada em uma prática tradicional tibetana e foi criada por Prema Dasara e um grupo de estudantes do Dharma, em 1985. Atualmente, é praticada e oferecida internacionalmente pelo Programa Educacional Tara Dhatu, como preces de paz, proteção, sabedoria e celebração do potencial humano. Metodologicamente a sessão se desenvolve, em geral, da seguinte forma: 1. Acolhida e exposição dialogada sobre: (a) Os parâmetros e o sistema de escrita de línguas de sinais: Signwriting; (b) Tara e suas Qualidades Iluminadas; (c) Os Mantras, os Mudras, os Movimentos; (d) O Programa Educacional Tara Dhatu Sul América (TDSA). 2. Prática: (a) Leitura dos movimentos da Dança propostos nas Cartas das Qualidades Iluminadas de Tara; (b) Danças: As danças se desenvolvem de acordo com o material do Programa Educacional TDSA. Em suma, este trabalho tem promovido leveza e bem estar às participantes e ainda tem muito a produzir, seja na escrita que venho elucidando, inspirada nos ensinamentos de Prema Dasara e do Programa TDSA, bem como nos de Valerie Sutton, seja na promoção do bem estar das pessoas participantes que vêm a cada sessão, pois, para mim, assim se mantém uma profunda e viva conexão da tríade Corpo-Mente-Universo.