O presente texto analisa as relações entre o discurso da história, a perspectiva da hermenêutica e a crítica sobre as relações de gênero na contemporaneidade, considerando possíveis diálogos. Em três momentos distintos, objetivamos refletir sobre: 1) a historiografia contemporânea e a escrita da história como objeto de revisão crítica; 2) a contribuição da hermenêutica para a reflexão acerca do conhecimento nas ciências humanas e, em particular, sobre as identidades de gênero; 3) as possíveis relações e intersecções entre os discursos da história, a hermenêutica e a crítica aos marcadores sociais que identificam os sujeitos. De um modo geral, as pesquisas que relacionam as reflexões sobre os gêneros nos seus processos de historicidade a partir do método da hermenêutica, revelam um grande esforço de renovação teórica e têm se constituído como um campo multidisciplinar, com uma pluralidade de influências, na tentativa de reconstituir experiências silenciadas e excluídas. São estudos que refletem preocupações com o presente e com o projeto de modernidade instituído que, de modo intenso, trazem novos significados de subjetivações para determinados grupos sociais. Além da contribuição propriamente científica, o estudo de outras histórias embasa projetos políticos que visam ao resgate de variados sujeitos e atores, não mais abstratos e universais, e, conseqüentemente, das suas experiências e lutas, proporcionando assim, a construção de uma sociedade mais plural em identidades e cidadanias. Daí reside à importância da interpretação hermenêutica para as abordagens ligadas à nova história cultural e ao uso da categoria analítica gênero enquanto esquema de leitura dos fenômenos sociais.