O livro didático tem sido reconhecido, por muitos estudiosos, como um recurso imprescindível do qual dispõem tanto o professor como o aluno. Em alguns contextos, é muitas vezes, o único recurso o qual o professor recorre para ministrar suas aulas. Algumas pesquisas destacam, inclusive, que o livro didático tem despontado como sendo o mais utilizado no exercício das práticas de leitura, perdendo apenas para a Bíblia. Dentro desse contexto, a pesquisa aqui empreendida tomou como objeto de estudo os livros didáticos de Português de a Coleção Viver, Aprender destinados a EJA – Educação de Jovens e Adultos – do segundo segmento. E nesta direção, propôs como objetivo verificar quais práticas de leitura eram proporcionadas pela referida coleção. Entendíamos, assim como nos revelaram os estudiosos da história da leitura, que a toda obra subjaz um leitor imaginário e, consequentemente um protocolo de leitura. Nesta perspectiva, adotamos como procedimento um levantamento das esferas de produção/circulação de todos os textos que a coleção contemplava e, posteriormente, verificamos sobre quais desses textos incidiam as atividades de leitura. Além disso, também realizamos entrevistas com os autores, na perspectiva de sabermos o que os havia motivado quanto à seleção textos presentes na referida coleção. O resultado nos permitiu perceber que, embora a coleção contemplasse os textos de diversas esferas de produção/circulação, a ênfase recaia sobre os textos de cunho literário, incidindo também sobre eles a maior parte das atividades de leitura/compreensão textual, o que pareceu justificar a proliferação de textos didáticos também presentes na coleção e marcados por uma abordagem caracterizada pela explicitação de conteúdos relacionados aos aspectos gramaticais e/ou de natureza composicional do gênero. Em face disso, entendemos que a coleção analisada enseja um modelo de leitura que nos remete aos primórdios da escolarização da leitura, à forma como foram se configurando os livros didáticos de português ao longo do tempo, e às práticas de leitura em que os textos literários eram tomados como referência para o seu ensino, por serem considerados os “modelos” a serem imitados. Concomitantemente, o depoimento dos autores revelou também que a empatia pelos textos literários e a experiência na docência com a educação de jovens e adultos em que textos dessa esfera eram utilizados corroborou para o destaque que eles tiveram na referida coleção, assim como a forma em que aparecerem configurados na proposição das atividades de leitura/compreensão textual.