O trabalho do professor, no que se refere aos processos de ensino-aprendizagem de língua materna, tem sido analisado, notadamente, sob a ótica das representações/concepções docentes e dos processos de didatização dos objetos de aprendizagem. Nesse sentido, emerge, no âmbito das pesquisas em Linguística Aplicada, uma categoria analítica, a dos gestos didáticos, que visa possibilitar um “novo” olhar sobre os modos como o professor conduz a transposição didática em sala de aula, entendida como um conjunto de ações planejadas e implementadas pelo docente para transformar um saber a ensinar em um saber efetivamente ensinado. Nos processos de didatização, os gestos do professor se revestem de uma função tanto discursiva/semiótica quanto pedagógica, haja vista a nossa comunicação verbal ser sempre acompanhada por atos sociais de linguagem de caráter não verbal, significativos e intimamente associados ao contexto imediato da interação. Assim, com base nos trabalhos de Bucheton (2008), de Schneuwly (2000), Schneuwly; Dolz; Cordeiro (2005) e de Aeby-Daghé & Dolz (2008), entende-se que há um conjunto de gestos didáticos fundadores mobilizados pelo docente em sua atividade cujo objetivo é implementar uma dada ação de ensino-aprendizagem. Esses gestos englobam movimentos linguageiros e corporais empregados pelo professor durante uma ação didática específica, refletindo a maneira como as práticas do ofício são convencionadas e estabilizadas historicamente pela escola. Este trabalho tem por objetivo demostrar a viabilidade teórico-metodológica de investigar o trabalho docente a partir dos gestos didáticos. Para isso, apresenta a descrição e análise dos gestos mobilizados por um professor-alfabetizador atuante no Programa Brasil Alfabetizado (PBA) da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do município de Jacaraú-PB. Os dados foram gerados e coletados através de videogravação e correspondem às interações professor-alunos ocorridas em três aulas com duração média de 50 minutos cada. A transcrição das falas ora analisadas segue o modelo de notações da Análise da Conversação proposto em Dionísio (2001). Os resultados do estudo apontam que o professor-alfabetizador se utiliza dos chamados gestos didáticos fundadores para ensinar a língua escrita (leitura e escrita), e que esses mesmos gestos verbais-corporais assumem um papel relevante e específico no processo de transposição didática por ele conduzido naquele contexto de ensino. Logo, o caráter singular (e situado) dos gestos do professor é o que essa perspectiva teórico-metodológica pode desvelar acerca do agir docente.