Ao estudarmos a história da literatura infantil universal, conhecemos a intrínseca dependência que esta teve com as fontes populares de origem heterogênea. Exemplo disso são os contos de fadas recolhidos na Itália, por Basile e, na França, por Charles Perrault – ambos no século XVII – ou na Alemanha, pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm (século XVIII). No entanto, tal relação não se limita às origens desse segmento literário, pois também está presente na literatura infantil brasileira. Desde as aventuras em torno do sítio do picapau amarelo, criado por Monteiro Lobato, é possível verificar o resgate folclórico que autores nacionais fazem para construir textos que valorizam as diferentes modalidades de representações literárias populares. Com o desenvolvimento da produção editorial voltada para a infância, sobretudo após as décadas de 70/80 dos anos 1900, outros autores nacionais também se interessaram por desenvolverem seus textos pela perspectiva folclórica, a exemplo de Ricardo Azevedo, numa clara persistência por perpetuar as tradições populares via literatura. Tendo em vista essa constante na literatura infantil e juvenil brasileira, buscamos estudar como ocorre a apropriação da literatura popular nessas obras, especialmente, a partir da publicação de Histórias da Tia Nastácia, de Monteiro Lobato. Para tanto, lançaremos mão dos estudos do texto verbal atrelado ao texto imagético, a fim de perceber de que forma os possíveis diálogos verbo-visuais contribuem para a construção e divulgação do acervo popular pela literatura infantil. Antecipamos que são textos que contribuem para manter viva a tradição de contar estórias, por exemplo, perpetuando a memória coletiva em torno de lendas, fábulas e contos com suas fórmulas, suas constantes e variantes adaptadas ao gosto local em que os enredos se aclimatizam.