Nos últimos anos, várias políticas de acesso à leitura alteraram o sistema educacional brasileiro, a exemplo do Decreto n.º 91.542, de 19 de agosto de 1985, que institui o Programa Nacional do Livro Didático, do Programa Nacional Biblioteca da escola, desenvolvido desde 2007, e do Decreto nº 4.886, de novembro de 2003, que estabelece a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial. No âmbito da Educação Básica, o livro didático comumente possui duas funções pedagógicas básicas: instrumento de apoio didático para o professor e fonte de estudo e pesquisa para o aluno. Neste sentido, faz-se necessário que os conteúdos nele veiculados contemplem as diretrizes curriculares estabelecidas para esse nível de escolarização. Considerando que uma das funções sociais da escola é a formação cidadã dos seus educandos, é imprescindível que nesse espaço ocorra discussões de combate ao preconceito, ao racismo e a discriminação. Neste sentido, o estudo da literatura africana e afro-brasileira em sala de aula pode se tornar um importante instrumento para a reflexão acerca dessas desigualdades no país. Partindo deste pressuposto nossa pesquisa tem como objetivo geral estudar a abordagem que a coleção Português: Linguagem em conexão (2013), destinado ao Ensino Médio, faz da literatura africana e afro-brasileira de autoria feminina e como objetivo específico: analisar as propostas de leituras de textos escritos pelas mulheres africanas e afrodescendentes presentes na referida coleção. O presente estudo se faz relevante para situar a importância da literatura africana e afrodescendente na criação da identidade nacional e por propor uma reflexão sobre a importância de incluir, na escola, uma bibliografia que exalte as vozes negras de autoria feminina que muito contribuiu para a construção da literatura e que possuem um importante valor histórico cultural. Para a concretização dessa pesquisa serão realizadas a leitura e estudo de documentos como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (BRASIL, 2004), além dos trabalhos de Aguiar e Bordini (1988), Cosson (2006), Pinheiro (2001) e Pinheiro e Nóbrega (2006) sobre o trabalho com o texto literário nos livros didáticos e, na sequência, a seleção e análise das partes de cada livro destinada para Literatura, a fim de constatamos se nas unidades existentes, a literatura africana e afrodescendente faz parte de sua constituição. A pesquisa identificou que a coleção analisada não favorece a difusão e valorização da literatura escrita pelas mulheres negras africanas e afro-brasileiras.