Nos últimos anos, o debate sobre identidade de gênero tem conquistado cada vez mais atenção na academia e na sociedade em geral. Esta tendência também pode ser vista no ambiente escolar, com o interesse por parte dos alunos em compreender o tema, a incorporação em alguns livros didáticos e o difícil posicionamento das instituições de ensino e dos seus profissionais, que parecem não chegar a um acordo sobre o seu papel em abordar ou não esse conteúdo em sala de aula. No nível governamental, as recentes discussões sobre as normativas que orientam o ensino e sérias contradições entre os documentos reguladores, a exemplos dos planos nacional, estadual e municipais de ensino, refletem os dissensos que marcam esse tema, sendo crescente o número de decisões parlamentares que excluem os termos “gênero” e “sexualidade” das orientações para o ensino na próxima década em diversas regiões do país.
Diante de tal contexto, este trabalho busca encontrar um caminho onde a sociologia possa ser utilizada na tentativa de conciliar diferentes interesses ou perspectivas, servindo enquanto plano de fundo para o debate sobre identidade de gênero no ensino médio. Esta etapa da vida escolar representa uma importância que supera os interesses acadêmicos e oferece aos jovens contribuições relacionadas até mesmo com a construção ou o entendimento da sua identidade social. Entre os 14 e 17 anos diversos aspectos da personalidade estão sendo consolidados, e, em meio a tudo isso, a sexualidade surge de forma curiosa ou assustadora, e com frequência adiciona na vida dos estudantes uma nova forma de pressão social. Considerando que eles nem sempre encontram apoio na família para esclarecer suas dúvidas, a escola pode ser um ambiente acolhedor onde o aluno tenha liberdade para se expor ou expressar. Porém, ao mesmo tempo que vários estudantes encontram tal liberdade, também são comuns os relatos de discriminação e até mesmo violência baseados na identidade de gênero.
É importante notar que o ambiente escolar representa uma amostra das opiniões que estruturam o debate na sociedade, desde as mais conservadoras até as mais liberais, e esta constatação é válida para todos os segmentos citados: alunos, professores, instituição e estado. Este trabalho discute formas através das quais a sociologia pode ser usada como contexto para explorar o debate em torno da identidade de gênero, mas considera todas as dinâmicas que acontecem no ambiente escolar, dentro e fora da sala de aula, pensando em como a discussão desse conteúdo nas aulas pode impactar nas relações escolares e até mesmo para além da escola, na sociedade em geral.