O presente artigo tem como objetivo situar uma reflexão em torno da constituição (e desestabilização) do universo feminino com base em personagens de dois contos de Clarice Lispector. Em um primeiro momento, situar-se-á a discussão que insere a escrita clariceana no cânone literário brasileiro como pioneiramente feminista. A seguir, partindo-se das considerações teóricas expostas por Elaine Showalter (1994), se discutirá os pressupostos da “ginocrítica” como modelo explicativo para o entendimento e discussão da literatura escrita por mulheres, atentando com mais ênfase ao nível cultural. Como corpus de análise foram eleitos os contos Amor e O búfalo, nos quais o clímax epifânico das personagens constitui um momento de dissidência e desequilíbrio em torno da identidade feminina.