A influência do feminismo na história do pensamento geográfico contribuiu para a emergência das geografias feministas, um movimento de contestação dos discursos hegemônicos que reivindicou a visibilidade das mulheres como sujeitos e objetos dessa ciência. Nesse contexto, o conceito de gênero assume importância como uma categoria de análise do espaço geográfico. A despeito da centralidade que a abordagem de gênero alcançou, sobretudo, na Geografia anglófona, a geografia brasileira tem se mostrado pouco permeável à perspectiva de gênero como possibilidade de construção da inteligibilidade da realidade social, tanto no âmbito acadêmico como na esfera escolar. Como forma de refletir sobre as potencialidades e limitações da disciplina de geografia em contribuir com o debate de gênero em sala de aula, esse artigo apresenta como proposta realizar uma revisão bibliográfica sobre a abordagem de questões de gênero pela geografia escolar. A partir de uma pesquisa realizada no Portal de Periódicos da CAPES, analisei três trabalhos que contribuem para essa reflexão: Tonini (2002), Costa (2011) e Hoven et al. (2010). Sob influência dos Estudos Culturais, Tonini (2002) avaliou o processo de constituição das identidades das mulheres a partir dos discursos presentes nos livros didáticos de geografia, mostrando a produção da mulher como integrante duplamente de uma cultura negada: na questão de gênero e na territorial. Costa (2011), influenciada pelos estudos pós-coloniais, aponta para a ausência ou superficialidade com que as questões de gênero são tratadas no livro didático de geografia. Hoven et al. (2010) defende a realização de trabalhos de campo como uma metodologia de grande potencial para incentivar os estudos de gênero na geografia. Os campos teóricos que sustentam os trabalhos analisados reivindicam novas versões científicas que sejam capazes de dar visibilidade para grupos sociais que foram silenciados pelos pressupostos da ciência moderna, como as mulheres.