Pensando na escrita reveladora das relações sociais em um Brasil marcado com profundos estigmas de violência racial, a autora Conceição Evaristo escreve sobre realidades do cotidiano de pessoas negras na sociedade brasileira. Os contos da autora têm sido, cada vez mais, utilizados por docentes em sala de aula no processo de ensino e aprendizagem em várias áreas. Ao discutir as dinâmicas de vida de seus personagens, Conceição Evaristo nos ajuda a desenvolver um olhar mais atento sobre dinâmicas sociais carregadas de historicidades na percepção de um país com vários marcadores de violência. Entendendo o processo do Pós abolição numa perspectiva contínua, a autora se debruça politicamente acerca da marginalização de pessoas negras inseridas nas periferias de grandes núcleos urbanos. Temas como violência policial, papéis de gênero, vulnerabilidade econômica, negligências do Estado, etc. Desta forma, este trabalho pretende discutir as possibilidades de análise histórica em sala de aula por meio de três contos: “Olhos d’água”; “Maria”; “A gente combinamos de não morrer”, todos localizados na obra intitulada “Olhos d’água” (2014). A autora estabelece um diálogo entre passado e presente entendendo seus personagens, apesar de ficcionais, inseridos na vida real de comunidades e favelas brasileiras. Para tanto, a pesquisa se desenvolveu na aplicabilidade dos três contos em sala de aula na disciplina de História para turmas de terceiros anos do Ensino Médio em escola pública, partindo do contexto político republicano na virada do século XIX para o século XX. O trabalho abarcou, portanto, conceitos e discussões sobre a escrita literária como potencializadora de diálogos com o Ensino de História, bem como o papel de mulheres negras na produção de novos sentidos do passado.