Este trabalho objetiva visibilizar como discursos neoliberais presentes em leis, decretos, portarias etc deram condições de produção para que o documento “La nueva BNCC y la enseñanza del español” fosse criado e como eles buscam naturalizar a educação como um produto e em que medida isso dociliza corpos. O material supracitado foi elaborado em coautoria pela Embaixada da Espanha no Brasil, por meio de seu Escritório de Educação, pelo Instituto Cervantes e a editora espanhola Edinumen, com um discurso de valor modal, afirmando que a feitura dele é para ajudar os docentes a trabalharem de acordo com o que está legislado pela BNCC. A proposta que consta nele é de um currículo que contempla o ensino do espanhol na etapa do Ensino Fundamental II, baseado no Quadro Comum Europeu de Referências para as Línguas. A pesquisa foi desenvolvida a partir do aporte teórico da Linguística Aplicada de vertente discursiva, tendo como suporte a metodologia da Análise Cartográfica do Discurso (Deleuze; Guattari, 1995; Barros; Kastrup, 2020; Deusdará; Rocha, 2021). Para as discussões relacionadas ao adestramento dos corpos que o neoliberalismo impõe, recorre-se às propostas de Foucault (1975 [2014b]), Laval (2019) e Dardot; Laval (2016) respectivamente; a fim de compreender o que não foi dito, mas está significado por meio das relações interdiscursivas, recorre-se aos estudos sobre pressupostos e subentendidos (Ducrot, 1987). Em correlação a isso, os estudos sobre silêncio (Orlandi [1942] 2007) são necessários para entender que há um continuum, pois, para dizer, é preciso não dizer, isto é, compreende-se, ao final da pesquisa, que o material analisado buscou atender aos interesses econômicos que hoje atravessam a educação brasileira.