O presente trabalho dispõe de uma análise qualitativa da obra Quarto de Despejo, da escritora mineira Carolina Maria de Jesus, e valemo-nos da edição comemorativa da Editora Ática (1960 - 2020) durante toda a pesquisa. Será destacado o protagonismo de Carolina, mulher negra, através de sua forte personalidade e de sua determinação pela (sobre)vivência, que nos fora descortinado através da escrita do seu diário, seu instrumento de transformação social. O livro Quarto de despejo é, pois, o relato autobiográfico da autora Carolina Maria de Jesus, revelando o cotidiano na favela Canindé, em São Paulo, nas décadas de 1950 e 1960, sendo possível a abordagem de diversas temáticas sociais, como: a violência na favela, a presença contínua da fome, a pobreza, a miséria e a ausência de políticas públicas eficientes. Carolina mantém, ao longo do livro, o desejo de se tornar escritora, algo que, diante do contexto de moradora da favela, mãe solteira e catadora de materiais recicláveis, era algo improvável. Porém, ao conhecer o jornalista Audálio Dantas, em uma cobertura jornalística na favela, em 1958, revelou seus textos escritos e seu desejo de se tornar escritora. Anseio que seria realizado depois de dois anos, no ano de 1960, com a publicação de seu livro Quarto de Despejo, pela editora Francisco Alves. Nele, estigmas evidenciados pela desigualdade social promovem no leitor uma aproximação com a obra, sendo possível tecer reflexões críticas sobre temas que ainda são presentes na contemporaneidade da realidade periférica do Brasil. Buscou-se por meio de revistas, jornais da época, artigos e fundamentações teóricas compreender a escrita de Carolina Maria de Jesus como um mecanismo de ascensão social na qual a vivência da escritora demonstra a realidade das classes menos favorecidas e a necessidade de se investir em políticas públicas e em uma educação pública de qualidade.