O conceito do ser masculino e feminino é construído socialmente e internalizado pelos sujeitos desde os primeiros anos de vida, condicionando concepções, por vezes equivocadas, e comportamentos que se vinculam a um sexo específico. Os espaços físicos e simbólicos, ou seja, os ambientes de socialização humana, contribuem com intensidades diferentes na internalização de tais concepções, bem como na formação da identidade de gênero. Nessa perspectiva, este estudo objetivou perceber representações do ser masculino entre jovens em conflito com a lei que cumpriam medida socioeducativa de internação no Centro Educacional Patativa do Assaré na cidade de Fortaleza – CE, bem como as relações de poder e subjetivações concernentes as questões de gênero. Optou-se por uma pesquisa de abordagem qualitativa que realizou um estudo de caso mediante a metodologia da história oral temática, com sete jovens privados de liberdade. Os dados, que foram coletados mediante observação sistemática e entrevistas livres in locus, foram submetidos a técnica de análise de conteúdo. Emergiram três categorias: a) ações aceitas – roubar, assaltar, matar inimigos, usar drogas, pichar, agredir fisicamente um rival; b) ações aceitas com admiração – matar policial, realizar grandes assaltos, comandar um ponto de venda de drogas, liderar rebelião e motins; c) ações condenadas – bater em mulher, matar mulher (exceto que exerça atividade profissional de policial ou promotora, ou considerada uma traidora), delatar um colega, estuprar, matar criança, desrespeitar a mãe. Constatou-se que há um código de ética implícito, no qual emana perceptível ligação entre a violência e o entendimento de masculinidade, a primeira por transparecer potência, força e impor respeito aos seus pares, e a última pela visível valorização da masculinidade, culto ao corpo viril e forte. A figura feminina aparece como frágil, delicada, menos importante no universo infracional.