O início do século XX encontraria a literatura brasileira numa fase de profundas transições. A obra da poetisa carioca Gilka Machado (1893-1980) surgiria em meio a essas transformações e provocaria escândalo de público e de crítica. Seus primeiros livros, Cristais partidos (1915) e Estados de alma (1917), revolucionaram a poesia de autoria feminina ao apresentarem versos plenos de erotismo, que chocaram a época por transgredirem o papel social convencionado à mulher enquanto escritora. Tal transgressão relegou-a a uma condição de marginalidade e ao ostracismo. Sendo a sua poética portadora de reflexos do social no literário, denunciando mesmo a posição desfavorecida das mulheres na sociedade da época, através de textos que analisam tanto essa condição quanto o processo lento e gradativo que muitas tiveram de enfrentar para adentrar o campo da prática literária, demonstram que a poetisa ultrapassa os limites impostos pela ideologia dominante e provoca uma reavaliação do papel feminino na literatura e na sociedade, o que lhe renderia duras represálias. Este trabalho propõe a análise de aspectos relativos à recepção de sua obra por parte da crítica literária brasileira da época, que demonstrou resistência à originalidade de seus versos e ao pioneirismo com que aborda certas questões até então consideradas tabus.