A década de 1870 marca, no Brasil, a influência de concepções médico-higienistas nas questões educacionais, levando, dentre outros aspectos, a escola ser entendida como espaço de valorização moral e física da criança. Esse entendimento culmina com o disciplinamento e rigidez das instituições, em que as regras aparecem para modificar os comportamentos ditos “inadequados”. Nos anos 2000, o processo de medicalização da infância se dá também na perspectiva de transformar o pedagógico em patológico, nesse sentido, o comportamento e as possíveis dificuldades de aprendizagem são problemas a serem investigados por uma equipe médica. Em crianças pequenas, cujo desenvolvimento das funções psicológicas superiores está em desenvolvimento, diagnósticos apressados e sem o conhecimento do contexto social de cada indivíduo contribuem para o processo de medicalização da educação. Se, a partir do século XIX, a sociedade estava preocupada em preparar essa criança para ser o “adulto do amanhã”, hoje há a necessidade de adaptar essa criança ao conceito de normalidade definido socialmente, medicalizando os desvios indesejáveis. Nessa perspectiva, o trabalho tem por objetivo refletir sobre a desmedicalização na infância a partir da Teoria-Histórico Cultural para repensar práticas pedagógicas na educação infantil. Este estudo faz parte de pesquisas vinculadas ao Programa de Pós-Graduação em Educação Especial da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Para fins metodológicos, foi conduzida uma investigação bibliográfica, selecionando-se os materiais para análise com base nos conceitos nucleares dos fundamentos da educação especial, da educação infantil e da Teoria-Histórico Cultural. O estudo realça a necessidade de refletir sobre as abordagens medicalizantes voltadas para crianças, visando um processo de ensino e de aprendizagem que considere esse sujeito como um ser ativo no processo educacional e a aprendizagem como um processo de construção que se dá no âmbito das relações sociais e a partir de mediações intencionais.