No que diz respeito à poesia romântica portuguesa, o cenário da época era composto, em sua grande maioria, por poetas masculinos que escreviam sobre temáticas relacionadas desde a exaltação à pátria até o enaltecimento de elementos idealizados, como o herói, o amor e a figura feminina. A sociedade romântica por si só foi contundente para a visão idealizada das mulheres. Conforme Badinter (1991), durante a revolução romântica, as mulheres pouco se manifestaram, visto que eram impedidas da ação pública. A comprovação desse relato é termos conhecimento de pouquíssimas autoras durante a revolução romântica, no entanto, contrariando as relações de submissão feminina , Maria Browne foi umas das poucas autoras a dar voz a seus anseios enquanto mulher, inclusive sob o pseudônimo de Sorór Dolores. Nesta perspectiva, nosso objetivo é fazer uma análise do poema Desengano, publicado na obra Virações da madrugada (1854), a partir do viés da análise do discurso, tendo em vista a questão do sujeito e da ideologia aplicada a construção da poética de Browne. O texto da autora portuguesa é perpassado por discursos de exaltação do feminino e da reverberação da insubmissão da mulher na sociedade, sobretudo, em uma época em que elas eram vistas como musas, não como escritoras.