Apresentar este livro, intitulado “Construindo diálogos na educação inclusiva: acessibilidade, diversidade e direitos humanos" é uma missão honrosa: é comentar das 86 fecundas discussões que ele nos proporciona. Discussões realizadas por educadores e discentes de graduação e pós-graduação, ou seja, pesquisadores inquietos com as questões educacionais e socioculturais, tecidas ao logo do tempo, que ainda permeiam no imaginário das sociedades pós-modernas. Essas questões alicerçam barreiras que dificultam a fluidez do processo de inclusão escolar e, consequentemente social dos sujeitos com deficiência, dos afrodescendentes, dos povos originários, imigrantes, refugiados e do gênero feminino, mas, não estorvam o seu florescer em alguns pontos que desenham as sociedades pós-modernas. A exemplo dos artigos aqui presentes que procuram romper barreiras arquitetônicas e atitudinais, discutir práxis inclusiva, abordar habilidades presentes em sujeitos com ou sem deficiência. Esses artigos nos propiciam compreender os desafios ainda presente do processo de inclusão, mas, também, traz para a mesa de discussão, as possibilidades de desenvolver tal processo. Falamos em compreensão, porque no instante que compreendemos o mundo e os outros, podemos tecer possibilidades que construam sociedades mais igualitária. Como diz Watier (2002) se os homens não se compreendessem e não compreendessem as instituições em que vivem, a sociedade não seria possível.
Construímos tecnologias que romperam fronteiras geográficas e imaginarias. O mundo virtual aproximou comunidades com culturas distintas, mas o preconceito em relação ao outro que ainda se faz, fortemente, presente no seio das sociedades pós-modernas, produz barbarias, materializa o mal, alimentando, assim, os instantes turbulentos que estão sempre sendo vividos ou revividos. Precisamos retornar ao nosso relicário e refletir sobre nossos sentimentos. Como ilustra o romancista, poeta e ativista pelos direitos humanos francês, Victor Hugo (2020) “nunca devemos ter medo de ladrões ou assassinos. São perigos externos e os menores que existem. Temamos a nós mesmos. Os preconceitos é que são os ladrões; os vícios é que são os assassinos” (p.179).
Discutir os escritos que compõem a presente coletânea é também perceber a possibilidade que podemos ter de construir uma sociedade inclusiva. Para Vieille-Grosjean (2017, p.01):
Uma sociedade dita "inclusiva" é uma sociedade viva e aberta que se adapta às diferenças presentes no seu solo, ou às diferentes presenças que ocupam um território a partilhar, e permite a cada pessoa viver segundo as suas referências, seus marcos e suas necessidades. É também uma sociedade que vai ao encontro das expectativas as mais fundamentais das pessoas que a escolheram e que a compõem, para lhes dar todas as possibilidades de sucesso na vida.
É neste sentido de propiciar reflexões sobre as possibilidades de construir lugares sociais que possam favorecer a inclusão escolar e social que a presente obra aborda resultados frutíferos e desafiadores no processo de inclusão dos sujeitos com deficiência, Transtorno do Espectro Autista – TEA ou altas habilidades, assim como, na educação matemática e no ensino de ciências, na literatura, nas Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs, na educação formal e informal, na educação do campo e nas questões étnicos-raciais e de gênero. Essas questões são discutidas perpassando pelos dois níveis do sistema de ensino, do básica ao nível superior.
Enfim, este livro é parte do percurso histórico de uma ideia que surgiu em 2014 dando origem ao I Congresso de Educação Inclusiva – I CINTEDI, realizado nas instalações do Centro Integrado Acadêmico, da Universidade Estadual da Paraíba, campus I, Campina Grande, Paraíba, Brasil.
Boa Leitura !
Referências
HUGO, Victor. Os Miseráveis. Texto adaptado. Traduzido por Francisco F. S. Vieira. São Paulo: Principis, 2020.
VIEILLE-GROSJEAN, Henri. Inclusion sociale, entre courants d’air et enfermements ?. In: revista educação inclusiva, Campina Grande, PB, v.01, n.01, julho/dezembro-2017, pp.1-9.
WATIER, Patrick. Une introduction à la sociologie compréhensive. Paris: Circé, 2002.
XIBERRAS, Martine. Les théories de l’exclusion : pour une construction de l’imaginaire de la déviance. Paris: Armand Colin, 1998.