Este trabalho relata um estudo de campo conduzido com a Associação Canábica Santa Cannabis de Santa Catarina. Em fevereiro de 2023, a referida Associação recebeu autorização judicial para cultivar cannabis, prática proibida no Brasil, e produzir extratos medicinais a partir desta planta, se tornando a oitava Associação Canábica brasileira autorizada a cultivar cannabis para fins medicinais. Como etapa metodológica de um projeto de doutorado, este texto tem a finalidade de relatar a experiência empírica com a Associação a partir de uma compreensão territorial. Enquanto a cannabis é um objeto disputado por diversos atores, as Associações Canábicas estão inseridas em disputas territoriais pela representação de interesses em torno deste objeto. Os medicamentos à base de cannabis disponíveis nas farmácias brasileiras são inacessíveis para a maior parte da população devido ao seu alto custo. Além disso, os medicamentos disponíveis nas farmácias, ou alternativas utilizadas por pacientes como acesso ao tráfico de drogas, está vinculado a um circuito lucrativo onde os pacientes não possuem controle sobre os processos de produção. Por outro lado, as Associações Canábicas têm sido utilizadas como possibilidades de obtenção de direito de cultivo de cannabis, que pode ser realizado de forma orgânica por um valor muito inferior ao do mercado privado, a partir de um modelo democrático sem fins lucrativos, onde os associados possuem transparência e poder de decisão sobre as práticas de cultivo. É por acreditarem na Associação como uma ferramenta que presta serviços sociais contra lógicas produtivistas que seus colaboradores empregam esforços na sua territorialização.