O objetivo deste trabalho é analisar, na perspectiva da Linguística Cognitiva, o papel dos gestos e da direção do olhar na construção de sentido e de referenciação em narrações e reencenações de eventos passados no contexto de interação face a face. Para isso, selecionamos 2 ocorrências extraídas de entrevistas televisionadas em diferentes emissoras brasileiras. As análises foram baseadas na Teoria dos Espaços Mentais, uma vez que, no desenvolvimento do discurso narrativo, são criados espaços mentais para alocar informações que superam o contexto imediato. Em função da investigação multimodal proposta, para além da fala, em termos metodológicos, analisamos a direção do olhar e da cabeça, a utilização ou não dos braços na realização dos gestos e a postura do tronco. Esses articuladores foram analisados no sentido de observar os modos como o narrador corporifica os pontos de vista de dois ou mais personagens na mesma narrativa e, também, no ponto de vista da própria narração. Sendo assim, levando em consideração a segmentação corporal, os resultados apontaram que os gestos e a direção do olhar, no contexto do português brasileiro, podem marcar, ao mesmo tempo diferentes Espaços Mentais, o que nos leva a concluir que se tratam de articuladores independentes. Além disso, os resultados apontam que os narradores tendem a usar o Espaço Base para interagir com seus interlocutores, demonstrando que a Linha Falante-Ouvinte é caracterizada como o lócus da interação real e imediata. Por fim, foi possível observar que a combinação de gestos com a (re)direção do olhar demonstra como, cognitivamente, as narrativas são construídas no contexto interacional.