A educação brasileira, desde seu início ainda durante o período de colonização portuguesa, apresenta uma concepção eurocêntrica, o que representa algo problemático, principalmente pelo aspecto segregacionista e discriminatório em relação à população afro-brasileira. A necessidade de educação escolar para pessoas negras como uma condição necessária à superação da exclusão socio-racial a que estavam submetidos foi uma pauta das reivindicações abolicionistas e pós-Abolição, que se estenderam ao longo do século XX. A mais recente foi a alteração da Lei de Diretrizes e Bases, lei n. 9394/1996 (que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional), em 2003, pela lei 10639/03, que estabeleceu o ensino de história e cultura afro-brasileira nos estabelecimentos de educação básica públicos e particulares. Entretanto, a lei não estabeleceu metas para a sua implementação, não previu ações mais efetivas para que as universidades reformulassem seus programas de ensino dos cursos de graduação, especialmente os de licenciatura, para formarem professores aptos a ministrarem esses conteúdos, ou seja, quase vinte anos depois da promulgação da citada lei não se vê uma continuidade das muitas estratégias surgidas durante a efervescência de sua criação. Ao que parece, tudo depende da vontade e dos esforços de professores e de cada instituição de ensino em promover ações nesse sentido, muitas vezes restritas a projetos transdisciplinares em períodos específicos, como o mês de novembro. Diante desta ainda atual situação, a proposta deste artigo é conceber teoricamente a ideia de ensino afrocentrado de língua portuguesa e analisar algumas propostas pedagógicas que investem em um ensino antirracista e decolonial. O referencial teórico-prático compõe-se de autores e pesquisadores contemporâneos, a exemplo do Henrique Freitas e Conceição Evaristo. Acredita-se que o material desenvolvido será de grande utilidade para os educadores, em diferentes processos de ensino-aprendizagem, pela diversidade de textos, linguagens e ferramentas delineadas.