A produção dos Annuários do Ensino do Estado de São Paulo compõe parte do processo da organização burocrática da educação, visando racionalizar e analisar a expansão e a qualidade da instrução no estado de São Paulo. Os apontamentos, relatos e considerações eram realizados pelos Inspectores de ensino, responsáveis pela fiscalização das unidades escolares. O tema aqui proposto está situado em um contexto de modernização do ensino, no qual estes inspetores se encontram em meio à exaltação dos grupos escolares, símbolos da modernidade e funcionalidade educacional, e a depreciação das escolas isoladas, representantes de um passado ineficiente e fadadas ao desaparecimento. O objetivo deste estudo, foi analisar ponderações favoráveis às escolas isoladas, no sentido de justificar suas deficiências, apontando fatores externos às causas dos problemas apresentados. As fontes utilizadas foram os Annuários do Ensino do Estado de São Paulo, entre os anos 1908 e 1910, período em que ocorrem publicações dos relatórios e considerações individuais dos inspetores. Os procedimentos de pesquisa envolvem a análise dos argumentos dos inspetores, identificando aqueles que são, direta ou indiretamente, favoráveis às escolas isoladas. As categorias de análise utilizadas são classe, no sentido de identificação entre indivíduos que compartilham elementos comuns em sua trajetória e cotidiano, elaborado pelo historiador E. P. Thompson (2012) e discurso, no sentido proposto pelo filósofo Michel Foucault (1996), partindo da relação entre o discurso e poder. Os resultados das análises demonstraram que o reconhecimento das precariedades das escolas isoladas, que se mostram incapazes de atender os requisitos de fornecimento de um ambiente e metodologias adequados à aprendizagem dos infantes, não impede o reconhecimento dos esforços empreendidos por docentes e discentes no cumprimento cotidiano de suas atividades, tampouco a responsabilidade do estado na promoção das devidas condições.