DIANTE DE SEU MATERIAL DE ANÁLISE, CABE AO ANALISTA DE DISCURSO FAZER O IMBECIL, ISTO É, “DECIDIR NÃO SABER NADA DO QUE SE LÊ, PERMANECER ESTRANHO A SUA PRÓPRIA LEITURA” (PÊCHEUX, 2016, P. 25). DITO DE OUTRO MODO, FRENTE A UM OBJETO DE ANÁLISE, O ANALISTA DE DISCURSO DEVE SE EMPENHAR EM EXPLICITAR OS PROCESSOS IDEOLÓGICOS QUE OS CONSTITUI E QUE LHES IMPRIME UMA DIREÇÃO DE SENTIDOS, DESFAZENDO SEU EFEITO ILUSÓRIO DE EVIDÊNCIA E TRANSPARÊNCIA. ISSO POSTO, PRETENDEMOS COM ESTE TRABALHO QUE ANALISA O DISCURSO SOBRE OS ATLETAS PARALÍMPICOS QUE CIRCULAM NO/PELO JORNAL FOLHA DE S.PAULO, RECUSAR O LUGAR DE OBVIEDADE E DE TRANSPARÊNCIA QUE É DADO ÀS DISCUSSÕES ACERCA DA “DEFICIÊNCIA” E DA “PESSOA COM DEFICIÊNCIA”, ENTENDENDO QUE O(S) SENTIDO(S) ACERCA DESSAS QUESTÕES SÃO DOTADAS DE OPACIDADE E DETERMINADOS SEGUNDO CERTAS CONJUNTURAS E SOB CERTAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO. NOSSO OBJETIVO É COMPREENDER DE QUE MODO AS QUESTÕES ACERCA DO CORPO DESSES SUJEITOS SE TEXTUALIZAM E PRODUZEM EFEITOS DE SENTIDO NAS/PELAS NOTÍCIAS FORMULADAS E POSTAS EM CIRCULAÇÃO PELA FOLHA DE S.PAULO. SALIENTAMOS QUE NÃO É O CORPO EMPÍRICO DO INDIVÍDUO, O CORPO BIOLÓGICO, QUE ESTAMOS TRAZENDO À DISCUSSÃO, MAS O CORPO COMO “MATERIAL DE LINGUAGEM, SOCIAL E SIMBÓLICO QUE PRODUZ SENTIDOS E É SIGNIFICADO EM PROCESSOS COMPLEXOS DE MEMÓRIA” (HASHIGUTI, 2015, P. 17) EM QUE SE ENTRECRUZAM DIFERENTES DISCURSIVIDADES, CONSTITUÍDAS PELO CONFRONTO DO SIMBÓLICO COM O POLÍTICO, ONDE TRABALHA A IDEOLOGIA CUJA MATERIALIDADE ESPECÍFICA É O DISCURSO. PARA TANTO, FUNDAMENTAMO-NOS NO APARATO TEÓRICO-METODOLÓGICO DA ANÁLISE DE DISCURSO MATERIALISTA PROPOSTAS POR MICHEL PÊCHEUX E ENI ORLANDI. CONSIDERAMOS COMO CORPUS DESTE TRABALHO A COBERTURA DA/NA FOLHA DOS JOGOS PARALÍMPICOS DE VERÃO DE ATENAS-2004, PEQUIM-2008, LONDRES-2012, RIO-2016, E TÓQUIO-2020. ALÉM DE SEREM OS PRIMEIROS JOGOS PARALÍMPICOS DO SÉCULO XXI ELES SUCEDEM, A NÍVEL NACIONAL E INTERNACIONAL, A PROMULGAÇÃO DE UMA SÉRIE DE INSTRUMENTOS LEGAIS QUE TRATAM SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, COMO A LEI DA ACESSIBILIDADE (LEI Nº 10.098/2001) E A CONVENÇÃO DE GUATEMALA, POR EXEMPLO. TAMBÉM PESARAM EM NOSSA DECISÃO PELA SELEÇÃO DESTES JOGOS COMO CORPUS DE ANÁLISE O ACORDO ASSINADO, EM 2002, ENTRE O COMITÊ OLÍMPICO INTERNACIONAL (COI) E O COMITÊ PARALÍMPICO INTERNACIONAL (IPC, EM INGLÊS) EM PARTILHAR A RESPONSABILIDADE PELA ORGANIZAÇÃO DE AMBOS OS JOGOS. UMA VEZ DECIDIDO QUE TOMARÍAMOS COMO PONTO DE ENTRADA OS JOGOS PARALÍMPICOS DE ATENAS-2004, INSERIMOS, COMO PARÂMETROS PARA OS RECORTES, NO CAMPO DE BUSCA DO ACERVO DIGITAL DA FOLHA, ENTRE 01.01.2001 (QUANDO SE INICIA O CICLO PARALÍMPICO DE ATENAS-2004) E 30.09.2021 (ÚLTIMO DIA DO MÊS EM QUE OCORRERAM OS JOGOS DE TÓQUIO-2020), OS TERMOS ‘PARALÍMPICO’, ‘PARAOLÍMPICO’, ‘PARALIMPÍADA’ E ‘PARAOLIMPÍADA’. É IMPORTANTE RESSALTAR QUE APESAR DE PARTIRMOS DE UMA LEITURA DE ARQUIVO AUTOMATIZADA (DIAS, 2019), ISTO É, DE UM RESULTADO ‘DADO’ PELO ALGORITMO DO ACERVO DIGITAL DA FOLHA, A SELEÇÃO DOS RECORTES QUE COMPÕEM O CORPUS DE ANÁLISE DESTA PESQUISA NÃO OCORRE POR UMA JUNÇÃO INDISTINTA DE DOCUMENTOS SOBRE OS JOGOS PARALÍMPICOS, MAS POR UM PROCESSO DE LEITURA-TRITURAÇÃO (PÊCHEUX, 2016), NUM MOVIMENTO PENDULAR ENTRE TEORIA E ANÁLISE (PETRI, 2013) E CONSIDERANDO AQUILO QUE DIAS (2019) ASSEVERA ACERCA DA CONSTITUIÇÃO DE UM ARQUIVO DE ANÁLISE NO/PELO DIGITAL. A PARTIR DO RESULTADO DE BUSCA QUE OBTIVEMOS E FRENTE A GRANDE QUANTIDADE DE NOTÍCIAS DISPONIBILIZADAS PELO ALGORITMO DA FOLHA (797 MATÉRIAS QUE CONTINHAM UM OU MAIS DOS TERMOS DE PESQUISA), REALIZAMOS OUTROS GESTOS DE LEITURA, OUTROS PROCESSOS DE LEITURA-TRITURAÇÃO ATÉ CHEGARMOS ÀS 48 NOTÍCIAS QUE CONSTITUEM O CORPUS DE PESQUISA DESTA TESE DISTRIBUÍDAS EM DIFERENTES SEÇÕES DO JORNAL. A PARTIR DE NOSSO GESTO ANALÍTICO OBSERVAMOS QUE NO CASO DOS ATLETAS PARALÍMPICOS, NÃO É APENAS O FEITO ESPORTIVO, A CONQUISTA DE UMA MEDALHA OU DE UM RECORDE QUE ‘MARAVILHA’, QUE ‘DEIXA SEM PALAVRAS’ OU QUE ‘ENCHE DE ORGULHO’, MAS O FATO DE QUE ESSA MEDALHA OU ESSE RECORDE FOI ALCANÇADO POR UM ATLETA CUJO CORPO É DIFERENTE. A SIMPLES DESCRIÇÃO DO FEITO ESPORTIVO ALCANÇADO PELOS ATLETAS PARALÍMPICOS NÃO É SUFICIENTE, É PRECISO NOTICIAR A DIFERENÇA DO/NO CORPO DESTE ATLETA E, EM MUITOS CASOS, O MODO COMO ELA FOI CONSTITUÍDA. ALÉM DISSO, O ATLETA PARALÍMPICO, É TRATADO NAS/PELAS NOTÍCIAS COMO UM EXEMPLO DE SUCESSO, UM MODELO BEM-SUCEDIDO DO CARÁTER TRANSFORMADOR DO ESPORTE.