PORTAS, Danusa Depes. Da hybris do ponto zero. Anais do XI CONGRESSO BRASILEIRO DE HISPANISTAS... Campina Grande: Realize Editora, 2020. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/72642>. Acesso em: 26/12/2024 20:03
Esse trabalho usa como intercessores dois objetos visuais de Paulo Nazareth: Notícias da América e Cadernos da África. Que significa ler um objeto visual? Os objetos visuais nem sempre são imagens. O objetivo visual, como o texto, tem vida social. A produção teórica do americano W.J.T. Mitchell desenvolve essa e outras questões-chave da disciplina que surge como resposta teórica e crítica a discursos e metodologias tradicionais nas Letras, nas Humanidades. Os Estudos Visuais abordam o essencialismo das imagens, fazem viajar conceitos de uma disciplina a outra, politizam o ato de ver e sua performatividade, assim como o conjunto de práticas de visibilidade que lhe concerne. Mitchell propõe o giro pictórico e a imagem-texto como síntese que supera a divisão entre imagem e palavra, em disputa pela tradição Ut Pictura Poesis. Ressalta ainda que vivemos uma espécie de analfabetismo visual em plena era da iconofilia eletrônica. Quero sugerir que esse analfabetismo é disseminado por padrões inscritos nas formas do poder, do saber, do ser, do ver, anuindo ao que Joaquin Barriendos (MX) designa colonialidad del ver. A tese central aqui é de que na América durante o séculos XV e XVI se experimenta e se produz uma série de dispositivos de dominação articulados em rede e que alcançam o seu aperfeiçoamento na época clássica da Ilustração durante o século XVII. Essas questões poderiam cumprir-se nos dois dispositivos do projeto artístico brasileiro contemporâneo em cena. Eles nos interpelam e nos desafiam em parâmetros estéticos, no contexto histórico e na conjuntura institucional que os enquadram.