O presente trabalho trata das representações históricas e estéticas que poetas africanos e afrobrasileiros conceberam sobre a África negra no decorrer do século XX. Do lado de cá do Atlântico Oliveira Silveira participou do Movimento Negro Unificado (1978) e se constituiu, desde a década de 1970, como o poeta do quilombismo. Do lado de lá, Agostinho Neto se situou, desde a década de 1940, como o poeta da negritude. Assim, inaugura-se uma temporalidade em que a poesia negra se defronta com as décadas da descolonização africana e passa a refletir sobre os dois lados do Atlântico (a África e a Diáspora). As representações históricas da África e da Diáspora são analisadas a partir da linguagem poética de Agostinho Neto e Oliveira Silveira numa perspectiva comparatista. A hipótese assumida nessa reflexão é de que a “documentação estética”, nesse caso a poesia, responde por uma notável síntese do que se vem discutindo sobre linguagens historiográficas. Também parece notável que a poesia tenha sido, tanto para o movimento negro no Brasil quanto para a emancipação da África, a linguagem mais radical de luta contra o eurocentrismo e o colonialismo contemporâneos. O aporte metodológico se baseia nas obras Sagrada Esperança (com poemas entre 1945 e 1960), de Agostinho Neto; e Banzo, Saudade Negra (com poemas da década de 1960), de Oliveira Silveira.