RIBEIRO, Cristiane. Projeto de horta e jardim na escola como espaço sociocultural. Anais VII ENALIC... Campina Grande: Realize Editora, 2018. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/52550>. Acesso em: 23/11/2024 17:52
PROJETO DE HORTA E JARDIM NA ESCOLA COMO ESPAÇO SOCIOCULTURAL Resumo Os problemas ambientais têm causado graves danos à natureza, sendo decorrentes principalmente da ação inadequada dos seres humanos, que contribuem para a degradação do meio ambiente e perda da biodiversidade. Dessa forma, é necessário que haja uma busca para se alcançar um equilíbrio na relação entre os seres humanos e a natureza, visando encontrar alternativas sustentáveis e mudar as atitudes frente a essa problemática, reconhecendo as relações de poder envolvidas nas disputas pelo uso dos bens ambientais. A partir disso, tem-se a educação ambiental como a principal ferramenta da formação de jovens conscientes e dispostos a realizar mudanças sociais e ambientais em prol da sua comunidade e das pessoas mais vulneráveis. O subprojeto de Ciências Naturais, do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência (PIBID) da Universidade Federal da Bahia (UFBA), desenvolve um projeto transdisciplinar de horta no Colégio Estadual de Plataforma, localizado no subúrbio ferroviário de Salvador - BA. O projeto visa construir coletivamente, com alunos, funcionários e a comunidade, formas de se trabalhar com o solo, plantio, colheita, irrigação, entre outros, promovendo o diálogo entre os saberes disciplinares e destes com os saberes tradicionais Pretendemos que essas ações sirvam como instrumento de conscientização e reflexão, para que haja uma mudança, visando a sustentabilidade nas nossas relações com o meio ambiente. Além disso, buscamos contribuir para a redução do desinteresse dos estudantes pelas atividades escolares e para a redução da taxa de evasão. O conhecimento que a escola produz há muito tempo deixou de ser apenas voltado para as questões de instrução elementar. A escola busca uma parceria com as famílias para a construção de um conhecimento não imediatista, abrangente, que o aluno, após sair do ambiente escolar, possa usá-lo para a vida toda, proporcionando, assim, o desenvolvimento de valores (BALBINO; PETRUCELLI, 2017). Durante as intervenções buscamos romper com a educação bancária, criticada por Paulo Freire, por ser um modelo que gera um ciclo de ignorância, fazendo com que as bagagens culturais e históricas trazidas pelos discentes sejam ignoradas a ponto de torná-los indivíduos reprodutores de conteúdos puramente factuais, sem a capacidade de assimilar e desenvolver postura crítica em relação à sociedade em que vivem. Assim, a escola configura-se como um espaço sociocultural, sendo entendida, portanto, como um espaço situado na complexa trama social, o que exige um olhar denso sobre as relações sociais entre os sujeitos envolvidos (DAYRELL, 1992). Compreender a sala de aula nessa ótica significa vivenciá-la a partir de um olhar sobre as culturas que estão inseridas nela e que a fazem ser como é. Isto se evidencia, por exemplo, quando temos duas turmas (grupos socioculturais) que estão num mesmo nível escolar (e na mesma faixa etária), mas que são muito distintas entre si (FONSECA, 2009), conforme temos constatado em nossa intervenção na escola. A educação ambiental é um processo pelo qual o educando começa a obter conhecimentos acerca das questões ambientais, passando a ter uma visão mais ampla e crítica, assumindo um papel como agente transformador das relações e práticas visando à conservação ambiental (MEDEIROS et al., 2011). Nessa perspectiva, desenvolvemos as atividades de educação ambiental de maneira participativa, para refletir sobre questões atuais e intervir na construção do mundo que queremos, realizando a prática de um pensamento ambientalmente sustentável (FERREIRA et al., 2013). Para a concretização desse trabalho foi realizada a observação da escola no seu contexto social e cultural bem como a identificação dos conhecimentos dos alunos acerca de questões ambientais. A primeira atividade consistiu em uma trilha do conhecimento que abordava diversas questões ambientais. A segunda atividade realizada foi um quiz sobre solo, água, plantio, colheita, irrigação e materiais recicláveis. Na etapa seguinte do projeto os alunos reuniram-se e foram desafiados a elaborar ideias para reutilização de materiais recicláveis na horta e jardim. Em seguida, reuniram o material e produziram vasos com garrafas pet, realizando o plantio e a irrigação de sementes. O processo de construção coletiva das hortas escolares promove a prática da agricultura urbana, propiciando o envolvimento dos jovens no preparo do terreno, no plantio, nos cuidados com as plantas, na colheita e no uso dos vegetais na preparação das refeições, tornando-se um contexto pedagógico que possibilita o aumento do consumo de frutas e hortaliças, o resgate dos hábitos regionais e locais, a valorização de saberes tradicionais locais e a redução de gastos com a compra de gêneros alimentícios (MUNIZ; CARVALHO, 2007; CARVALHO et al., 2008). Assim, a horta e outros espaços verdes da escola tornam-se um importante dispositivo educativo para o trabalho em grupo com os alunos, para a disseminação de conceitos de democracia, ativismo ambiental, fazer sustentável, manutenção da limpeza, questionamento dos modelos de produção e consumo, dentre outros, para manter os alunos conectados e engajados na promoção da segurança alimentar e nutricional. A realização da trilha de conhecimento e do quiz resultou na identificação dos conhecimentos prévios dos estudantes sobre questões referentes ao solo, água, horta, reciclagem, crescimento das plantas, espécies locais e seus usos tradicionais, e compostagem. As práticas na horta possibilitaram relacionar a teoria e a prática, estimulando a responsabilidade e o cuidado de cada estudante ao manusear as ferramentas, a boa convivência entre os alunos e a valorização da escola enquanto espaço de convivência. Essas atividades, articuladas à aprendizagem de conceitos científicos de ciências, contribuem para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo fundamentado, crítico e comprometido com a vida e com o bem-estar. Palavras-chave: Horta, Jardim, Escola, Educação Ambiental, Ensino de Ciências. Referências BALBINO, C.; PETRUCELLI, E. M. Educação e preservação ambiental começa na escola. In: CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISADORES, 15., 2017, São Carlos. Anais... São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2017. BRASIL., Ministério da Educação, Lei nº. 9.795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília, 1999. Disponível em: . Acesso em: 26 set. 2018. CABRAL, A. Pedagogia do oprimido. Rev. Lusófona de Educação, Lisboa, n. 5, p. 200-204, 2005. Disponível em . Acesso em: 7 out. 2018. CARVALHO, A. T.; MUNIZ, V. M.; GOMES, J. F.; SAMICO, I. Programa de alimentação escolar no município de João Pessoa - PB, Brasil: as merendeiras em foco. Interface - Comunic., Saúde, Educ., v. 12, n. 27, p. 823-834, out./dez. 2008. DAYRELL, J. T. A educação do aluno trabalhador: uma abordagem alternativa. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 15, n. 21-29, jun. 1992. DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e prática. São Paulo: Gaia, 2004.