O "FENÔMENO DO TEATRO" NA EDUCAÇÃO: CAMINHOS PARA PROMOVER A DESNATURALIZAÇÃO DO RACISMO EM SALA DE AULA Mariana Alves de Sousa/mrianalvs@gmail.com/UNESP de Marília Marcela Schiavon Inocencio de Sousa/ UNESP de Marília Eixo temático: Cidadania, Direitos Humanos e Interculturalidade Resumo O trabalho tem como finalidade propor uma reflexão sobre como o "fenômeno do teatro", desenvolvido pelo teórico crítico Anatol Rosenfeld (1996), pode integrar atividades em sala de aula, de modo a propiciar a apreensão de determinado tema - desnaturalização do racismo, especificamente -, aproximando esse fenômeno da realidade dos(as) alunos(as) em busca do despertar do senso crítico e da integração do processo de formação de cidadania dos(as) mesmos(as). A relevância do tema corresponde à necessidade de ênfase sobre o fato histórico e social de que o racismo em suas dimensões interpessoal, internalizada e institucional conforme apontado por Jurema Werneck (2016), além de se configurar como uma das heranças coloniais de caráter estrutural que permanece causando uma série de danos à população negra até o presente, influencia drasticamente o cotidiano de jovens negros(as) inseridos no âmbito da educação básica. Posto isso, faz-se importante compreender como o racismo se perpetua nesses ambientes e refletir sobre práticas de ensino que contribuam para a gradual erradicação do mesmo. De acordo com a jornalista Fernanda Patrocínio (2016), por meio de uma pesquisa realizada pela mesma através dos dados do Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílio (Pnad) realizada em 2013, cerca de 53% da população brasileira se autodeclararam pretos ou pardos, conforme as nomenclaturas estabelecidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com base nos dados obtidos pela pesquisa Pnad de 2016, considerando a amostragem de 66,3 milhões de brasileiros(as) com a partir de 25 anos (aproximadamente 51% da população), apenas 8,8% dos autodeclarados negros ou pardos completaram o ensino superior. Ainda com base na mesma pesquisa, os dados apontam que a taxa de analfabetismo no país entre pretos e pardos foi de 9,9%, o dobro em relação à população branca. Diante dos dados percentuais apresentados, torna-se perceptível que o racismo se configura na sua dimensão institucional ao refletir nas formas de permanência na instituição escolar por parte dos(as) jovens negros(as), uma vez que estes(as) são a minoria em destaque na formação superior que precede a educação básica e é reflexo da mesma. Com vistas ao objetivo geral da discussão, torna-se fundamental pautar que a sala de aula como um dos principais espaços de socialização posterior à família, não pode prescindir de um caráter emancipador e se tornar excludente, como se mostra quando permanece sendo cenário de reprodução de práticas de racismo. O presente trabalho constitui-se a partir de leitura e revisão teórica com enfoque em autores que se debruçaram acerca da prática teatral como algo que ultrapassa os limites de uma mera leitura dramática (ROSENFELD, 1996), podendo ser instrumento de desconstrução de opressões que se reproduzem no meio social, como Anatol Rosenfeld (1996) e as contribuições do dramaturgo brasileiro Augusto Boal (1991) com a proposta da "poética do oprimido". Como forma de resgate teórico, os clássicos Marx e Engels (1971), expuseram uma reflexão atemporal sobre a literatura e a arte. Nesta, os autores consideraram que os indivíduos não surgem na sociedade dotados de neutralidade; em outras palavras, as construções sociais que formam o arcabouço do senso comum são anteriores aos seres sociais e com base nisso, os "princípios" e valores da época vivida demarcam a consciência dos mesmos. Logo, é fundamental que a desmistificação dos "princípios do mundo" ocorra, a fim de que os indivíduos tenham consciência crítica sobre a realidade a qual estão submetidos (MARX & ENGELS, 1971, p. 15). A fim de estabelecer uma relação oportuna entre o "fenômeno teatral" e a realidade vivenciada pela população negra no Brasil, faz-se referência a Eduardo de Assis Duarte (2018), que reitera as contribuições teóricas críticas de Joel Rufino dos Santos (2014). De acordo com Duarte (2018), Santos (2014) menciona a importância do TEN (Teatro Experimental do Negro) criado por Abdias do Nascimento (1944). Foi por meio do TEN que os(as) negros(as) inseridos no contexto brasileiro tiveram a oportunidade de assumirem o papel social e artístico de serem "sujeitos de seu próprio discurso e a colocar em cena corpo, voz, fala, e dramas por tanto tempo impedidos de chegar às plateias" (DUARTE, 2014). Além disso, autoras como Jurema Wermeck (2016) e Fernanda de Araújo Patrocínio (2016), são mencionadas ao longo do desenvolvimento do trabalho para reforçar a importância de fomentar práticas e metodologias de ensino que corroborem com uma implementação ampla e significativa da Lei n. 10.639/2003 em um ambiente como a instituição escolar, que deve prezar pela formação da cidadania dos sujeitos sem distinções. Contou-se também com informações oriundas de fontes secundárias de dados quantitativos como pesquisas Pnad, que evidenciam as dimensões do racismo na escola e a eminente necessidade de contribuir para o debate crítico, teórico e prático sobre as repercussões do racismo nesse espaço e, consequentemente, na sociedade. Pautando o objetivo desta discussão em propor uma reflexão crítica sobre o aprimoramento das práticas de ensino em sala de aula, relacionada à redução da incidência de práticas racistas no âmbito escolar, pretende-se apontar, sob a forma de consideração final, a relevância que o "fenômeno teatral" pode ter diante do intento de promover o reconhecimento da alteridade dos indivíduos não-negros para com os negros. Sendo assim, é importante considerar a proposta da poética do oprimido ao indicar que "o teatro pode ser posto a serviço dos oprimidos para que esses se expressem e para que, ao utilizarem essa nova linguagem, descubram igualmente novos conteúdos" (BOAL, 1991, p. 138). Palavras-chave: Educação, Racismo, Teatro. Referências: BOAL, Augusto. Poética do oprimido. In: Teatro do oprimido e outras poéticas políticas, 6. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira S.A, 1991. Cap. 4. p. 133-230. BRASIL. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. DUARTE, Eduardo A. Joel Rufino e o negro em cena. Disponível em: . Acesso em: 21 jun. 2018. ESTATÍSTICAS SOCIAIS. Pnad contínua de 2016: 51% da população com 25 anos ou mais do Brasil possuíam apenas o ensino fundamental completo. Disponível em: . Acesso em: 23 jun. 2018. MARX, Karl; ENGELS, F. O materialismo histórico e as superestruturas ideológicas. In: Sobre literatura e arte. 4ª ed. Editorial Estampa. Trad. LIMA, Albano, 1974. Cap. 1. p. 13-43.