LEURQUIN, EulãLia Vera Lãšcia Fraga. Entre habilidades e competências. Anais VII ENALIC... Campina Grande: Realize Editora, 2018. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/52119>. Acesso em: 21/12/2024 15:06
A Base Nacional Comum Curricular de Língua Portuguesa, para o Ensino Fundamental, está em fase de implementação no Brasil. Esse processo acontece a partir da produção dos documentos de orientação em construção em cada Estado. Mas, poucos ainda sabem de certo seus objetivos, as mudanças que ela anuncia, como levar para a sala de aula a prática docente nela anunciada e como formar o professor a partir dessa visão de ensino e aprendizagem de línguas. Trata-se de um documento volumoso, portador de muitas mudanças. Ela tem como ponto de referência os quatro campos de atuação apresentados (Campo da vida cotidiana, Jornalístico/Midiático, Vida Pública, Artístico Literário e Prática de Estudo e Pesquisa) que perpassam todo o Ensino Fundamental. Também fazem parte de sua constituição as quatro práticas de linguagem (Leitura, Produção escrita, Oralidade e Análise Linguística/Semiótica). Ao todo, são quatrocentas e noventa e quatro habilidades que se articulam ou deveriam se articular com as dez competências específicas à língua em função do ensino e aprendizagem dos trezentos e noventa e quatro objetos de conhecimentos, que não perdem de vista o foco maior que é a formação integral do humano. A pergunta que se faz é o que traz de mudança esse documento? Há um grande investimento no ensino e aprendizagem a partir do texto, numa abordagem comunicativa que possa ampliar as capacidades de linguagem do aprendiz, como já indicavam os Parâmetros Curriculares Nacionais. Mas, há mudanças sucintas e, ao mesmo tempo, profundas e passo a citar algumas delas. O texto é referência, mas não mais com base em agrupamento de gêneros e sim conforme o campo de atuação das práticas discursivas. A análise linguística tem seu espaço garantido, mas é modalizada pela semiótica o que faz redimensionar o conceito de texto. A oralidade ganha status, mas se sustenta de forma independente. Dar conta dessas mudanças exige um estudo profundo do texto, uma formação de professor, uma mudança de posicionamentos. O meu objetivo para esta comunicação é analisar o texto da BNCC de língua portuguesa e interpretar o seu enquadramento teórico na expectativa de compreender essa tessitura. A partir desse objetivo, questiono como o texto da BNCC se constitui, qual é o seu plano textual? Quais teorias se somam na construção do enquadramento teórico do seu dizer? Qual é o conceito de texto, gramática, gênero textual, leitura, produção de textos, ensino e aprendizagem de línguas? Que mudanças esse documento nos apresenta? Para a análise dos dados, fundamento-me no Interacionismo Sociodisursivo (BRONCKART, 2012), precisamente sobre a textualização da BNCC, as condições de produção e progressão temática. Quanto aos saberes mobilizados, alinho-me aos estudos desenvolvidos por Schneuwly e Hofstteter (2009) na expectativa de entender a transposição didática possível em sala de aula. No que diz respeito aos letramentos, baseio-me nos estudos de Rojo (2006) e de Cosson (2009) para em especial tratar do letramento científico tão presente nesse documento. Por assumir tais posições, a pesquisa está assentada nas teorias do texto/discurso e duas entradas no texto foram possíveis, uma pelo viés da textualização e a outra pelo viés do discurso e do seu desdobramento em sala de aula e para a sala de aula. Pelo viés da textualização, observamos a progressão textual com foco nos temas e forte contribuição do contexto de produção. Pelo viés do discurso e do seu desdobramento, fiz o levantamento do conteúdo temático, observando o nível semântico, relacionando-o a questões sobre o ensino e aprendizagem de língua portuguesa. Os resultados mostraram que haverá dificuldades em compreender o texto não apenas devido aos posicionamentos teóricos assumidos como devido à dificuldade de sua implementação em sala de aula, quer seja pela própria conjuntura quer seja pelo nível de linguagem não acessível aos professores. A pesquisa contribuir positivamente para a implementação deste documento e para a formação de professores. Palavras-chave: letramento científico, língua portuguesa, Base nacional Comum Curricular Referências BRONCKART, Jean -Paul. Atividade de Linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo. (1999) Trad. Anna Rachel Machado e Péricles Cunha. 2. ed., 2. reimpr. São Paulo: EDUC, 2012. COSSON, Rildo Letramento literário: teoria e prática, Editora Contexto, São Paulo, 2009. HOFSTETTER, Rita Schneuwly Bernard. Savoirs en Transformation: au coeur des professions de l´enseignement et de la formation, Raisons educatifves, De Boeck, Bruxelles, 2009 ROJO, Roxane Alfabetização e letramento: perspectivas linguísticas, Mercado de Letras, São Paulo, 2006.