Artigo Anais VII ENALIC

ANAIS de Evento

ISSN: 2526-3234

EM TEMPOS DE CRISE... EXCESSOS: UMA SUSPEITA SOBRE A RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Isso posto, não faremos uma análise criteriosa sobre as minúcias da ação. A proposta da Residência Pedagógica possui como objetivo: aperfeiçoar a formação de discentes; reduzir a distância entre as Instituições de Ensino Superior e as escolas e promover a adequação dos currículos e propostas pedagógicas dos cursos de formação inicial às orientações da Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Não é nossa pretensão erigir verdades absolutas sobre os conceitos aqui tensionados. Cabe-nos iniciar uma reflexão acerca dos valores morais e realizar interpretações que possuem como inspiração o pensamento de Nietzsche. Buscamos mobilizar o termo excesso e pensá-lo pela perspectiva de um possível controle da conduta docente, mas também como uma forma de transgressão. Uma forma de tensionamento. Dado o cenário brasileiro em que a moralização tornou-se princípio basilar e critério de programas e pautas políticas, a adequação aos moldes instituídos virou dever. O corpo docente, nessa conjuntura, é alvo constante de uma tentativa de pasteurização inglória. O pensamento do filósofo alemão alerta-nos para o questionamento constante das nossas ações, dos valores da moral e dos efeitos que eles produzem na vida e na nossa forma de experienciar o corpo e o movimento. A escola, constantemente, recebe críticas dessa natureza e, muitas vezes, apresenta-se como um lugar de economia de afetos. Nessa conjuntura, alguns programas podem servir como dispositivos morais e assim convida-nos para um alerta e suspeita constante dos seus efeitos. É preciso controlar o corpo e, sobretudo, os instintos transgressores. Toda e qualquer manifestação oposta a essa é, sumariamente, expulsa e taxada como ideologia perversa, pois torna-se ameaça incisiva aos bons costumes. Buscamos amparo metodológico na proposta de criação filosófico conceitual, como caminho para a realização de uma construção com inspiração filosófica e comportamento questionador (MARTINS, 2004). Adotamos tal modelo de metodologia devido à sua utilidade e eficiência para pensar problemas contemporâneos. Ademais, possibilita uma ampliação ou uma modificação dos aparatos conceituais de um campo, através da recontextualização das ideias formuladas em outro local e para outras finalidades. Sua utilização pode redesenhar as relações disciplinares estabelecidas, pois permite "pensar de outro modo". Explorar novos sentidos, ensaiar novas metáforas. Jogar com elementos distintos e, inicialmente, não aproximáveis. Tal exercício do pensamento, apresenta-se para os fins aqui pretendidos como uma alternativa coerente de possibilitar uma reflexão sobre alguns termos e conceitos e não somente questionar a cristalização dos seus usos, mas suspeitar de um modo de pensamento e sobretudo sobre as ações provenientes desse modo de pensar. A criação de novos sentidos e a proposição de ressignificação dos conceitos serve-nos para iluminar, sob diferentes perspectivas, os debates nos quais algumas posições tenderiam a estar fixas. Tal programa não pode ser reduzido a uma observação, por vezes, passiva. Há, como próposito, a busca de um modelo, um padrão a ser observado, copiado e reproduzido? Um parâmetro para a conformação? Será que a adequação anunciada como um dos objetivos não estaria ancorada em uma perspectiva moral? Há um dever ser balizado por um juízo de valor para analisar e controlar a conduta do professor/ preceptor e, consequentemente, as ações do aluno/ residente? Tal programa visa potencializar a ação docente ou servir como mais um dispositivo de culpabilização do professor? Há uma expectativa, ao final do programa de formação, do residente aquiescer com uma determinada lógica que comunga com uma certa visão de mundo? Todavia, ainda que haja todos esses pressupostos, o controle não é absoluto e não há garantia ainda que possa haver uma crença nela. O encontro entre as pessoas pode gerar fugas e rupturas. A dinâmica do conflito que se instaura entre os objetivos do programa e o convívio diário entre os participantes pode possibilitar outras formas de relação e construção das ações dos docentes e discentes. O elemento de potência reside nessa dinâmica: na arte do encontro, do contato. Na (re)construção, frequentemente, revisitada e, eticamente, ressignificada. Na compreensão da dinâmica do devir. Na incapacidade de se capturar a prática, ou melhor, a vida em movimento. Um extravasamento do contexto endógeno da universidade. Uma busca de um diálogo constante e não somente um uso momentâneo e utilitário do contexto escolar. Afirmar as dinâmica do devir e as dificuldades atreladas a essa condição é um risco. É soltar, ainda que de forma diminuta, as rédeas de condutas estanques, fixadas pela ancora de propostas tradicionais alicerçadas em princípios idealizados. Em tempos de exceção, a educação é um pilar, excessivamente, atacado e as tentativas de alteração são polimórficas. Em tempos de crise, os mecanismos de controle podem ser ampliados e, muitas vezes, apresentam-se de maneira atraente e sutil. Desse modo, atentos a esses possíveis movimentos, temos de potencializar a problematização e o excesso de criação. Suspeitar para potencializar outros corpos e outras formas de ser vida. Concluímos assim que a reflexão aqui proposta é apenas um esforço de operacionalização e suspeita no que tange as questões referentes à moral e ao programa anunciado. Não queremos com isso produzir uma afirmação sobre estes valores, muito menos ditar condutas para docentes, discentes e demais envolvidos. A proposta aqui anunciada possui mais dúvidas do que afirmações acerca da implementação. 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Isso posto, não faremos uma análise criteriosa sobre as minúcias da ação. A proposta da Residência Pedagógica possui como objetivo: aperfeiçoar a formação de discentes; reduzir a distância entre as Instituições de Ensino Superior e as escolas e promover a adequação dos currículos e propostas pedagógicas dos cursos de formação inicial às orientações da Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Não é nossa pretensão erigir verdades absolutas sobre os conceitos aqui tensionados. Cabe-nos iniciar uma reflexão acerca dos valores morais e realizar interpretações que possuem como inspiração o pensamento de Nietzsche. Buscamos mobilizar o termo excesso e pensá-lo pela perspectiva de um possível controle da conduta docente, mas também como uma forma de transgressão. Uma forma de tensionamento. Dado o cenário brasileiro em que a moralização tornou-se princípio basilar e critério de programas e pautas políticas, a adequação aos moldes instituídos virou dever. O corpo docente, nessa conjuntura, é alvo constante de uma tentativa de pasteurização inglória. O pensamento do filósofo alemão alerta-nos para o questionamento constante das nossas ações, dos valores da moral e dos efeitos que eles produzem na vida e na nossa forma de experienciar o corpo e o movimento. A escola, constantemente, recebe críticas dessa natureza e, muitas vezes, apresenta-se como um lugar de economia de afetos. Nessa conjuntura, alguns programas podem servir como dispositivos morais e assim convida-nos para um alerta e suspeita constante dos seus efeitos. É preciso controlar o corpo e, sobretudo, os instintos transgressores. Toda e qualquer manifestação oposta a essa é, sumariamente, expulsa e taxada como ideologia perversa, pois torna-se ameaça incisiva aos bons costumes. Buscamos amparo metodológico na proposta de criação filosófico conceitual, como caminho para a realização de uma construção com inspiração filosófica e comportamento questionador (MARTINS, 2004). Adotamos tal modelo de metodologia devido à sua utilidade e eficiência para pensar problemas contemporâneos. Ademais, possibilita uma ampliação ou uma modificação dos aparatos conceituais de um campo, através da recontextualização das ideias formuladas em outro local e para outras finalidades. Sua utilização pode redesenhar as relações disciplinares estabelecidas, pois permite "pensar de outro modo". Explorar novos sentidos, ensaiar novas metáforas. Jogar com elementos distintos e, inicialmente, não aproximáveis. Tal exercício do pensamento, apresenta-se para os fins aqui pretendidos como uma alternativa coerente de possibilitar uma reflexão sobre alguns termos e conceitos e não somente questionar a cristalização dos seus usos, mas suspeitar de um modo de pensamento e sobretudo sobre as ações provenientes desse modo de pensar. A criação de novos sentidos e a proposição de ressignificação dos conceitos serve-nos para iluminar, sob diferentes perspectivas, os debates nos quais algumas posições tenderiam a estar fixas. Tal programa não pode ser reduzido a uma observação, por vezes, passiva. Há, como próposito, a busca de um modelo, um padrão a ser observado, copiado e reproduzido? Um parâmetro para a conformação? Será que a adequação anunciada como um dos objetivos não estaria ancorada em uma perspectiva moral? Há um dever ser balizado por um juízo de valor para analisar e controlar a conduta do professor/ preceptor e, consequentemente, as ações do aluno/ residente? Tal programa visa potencializar a ação docente ou servir como mais um dispositivo de culpabilização do professor? Há uma expectativa, ao final do programa de formação, do residente aquiescer com uma determinada lógica que comunga com uma certa visão de mundo? 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Publicado em 03 de dezembro de 2018

Resumo

Friedrich Nietzsche, filósofo alemão do século XIX, tornou-se conhecido devido à sua forma crítica e impiedosa de suspeitar e combater os valores morais que apequenam a vida. O pensamento de Nietzsche e a sua filosofia têm como característica a crítica radical às construções metafísicas, religiosas e morais que exercem diversos efeitos no corpo e, sobretudo, no viver. O filósofo propõe que mantenhamos nossas crenças e nossos valores sob suspeita, pois tais verdades são criadas por humanos a partir de determinadas relações de interesse e forças (NIETZSCHE, 2009). Ao tomar esse ponto de partida para a reflexão, nos debruçaremos sobre o Programa Institucional de Bolsa para Residência Pedagógica, com o recorte da Educação Física - Licenciatura. Para os fins aqui pretendidos, o Programa apresenta-se como uma seara propícia para a suspeita. Visto que a proposta pode estar imiscuída de valores morais, focarei nos efeitos que ela poderá surtir nas ações dos seus integrantes. Isso posto, não faremos uma análise criteriosa sobre as minúcias da ação. A proposta da Residência Pedagógica possui como objetivo: aperfeiçoar a formação de discentes; reduzir a distância entre as Instituições de Ensino Superior e as escolas e promover a adequação dos currículos e propostas pedagógicas dos cursos de formação inicial às orientações da Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Não é nossa pretensão erigir verdades absolutas sobre os conceitos aqui tensionados. Cabe-nos iniciar uma reflexão acerca dos valores morais e realizar interpretações que possuem como inspiração o pensamento de Nietzsche. Buscamos mobilizar o termo excesso e pensá-lo pela perspectiva de um possível controle da conduta docente, mas também como uma forma de transgressão. Uma forma de tensionamento. Dado o cenário brasileiro em que a moralização tornou-se princípio basilar e critério de programas e pautas políticas, a adequação aos moldes instituídos virou dever. O corpo docente, nessa conjuntura, é alvo constante de uma tentativa de pasteurização inglória. O pensamento do filósofo alemão alerta-nos para o questionamento constante das nossas ações, dos valores da moral e dos efeitos que eles produzem na vida e na nossa forma de experienciar o corpo e o movimento. A escola, constantemente, recebe críticas dessa natureza e, muitas vezes, apresenta-se como um lugar de economia de afetos. Nessa conjuntura, alguns programas podem servir como dispositivos morais e assim convida-nos para um alerta e suspeita constante dos seus efeitos. É preciso controlar o corpo e, sobretudo, os instintos transgressores. Toda e qualquer manifestação oposta a essa é, sumariamente, expulsa e taxada como ideologia perversa, pois torna-se ameaça incisiva aos bons costumes. Buscamos amparo metodológico na proposta de criação filosófico conceitual, como caminho para a realização de uma construção com inspiração filosófica e comportamento questionador (MARTINS, 2004). Adotamos tal modelo de metodologia devido à sua utilidade e eficiência para pensar problemas contemporâneos. Ademais, possibilita uma ampliação ou uma modificação dos aparatos conceituais de um campo, através da recontextualização das ideias formuladas em outro local e para outras finalidades. Sua utilização pode redesenhar as relações disciplinares estabelecidas, pois permite "pensar de outro modo". Explorar novos sentidos, ensaiar novas metáforas. Jogar com elementos distintos e, inicialmente, não aproximáveis. Tal exercício do pensamento, apresenta-se para os fins aqui pretendidos como uma alternativa coerente de possibilitar uma reflexão sobre alguns termos e conceitos e não somente questionar a cristalização dos seus usos, mas suspeitar de um modo de pensamento e sobretudo sobre as ações provenientes desse modo de pensar. A criação de novos sentidos e a proposição de ressignificação dos conceitos serve-nos para iluminar, sob diferentes perspectivas, os debates nos quais algumas posições tenderiam a estar fixas. Tal programa não pode ser reduzido a uma observação, por vezes, passiva. Há, como próposito, a busca de um modelo, um padrão a ser observado, copiado e reproduzido? Um parâmetro para a conformação? Será que a adequação anunciada como um dos objetivos não estaria ancorada em uma perspectiva moral? Há um dever ser balizado por um juízo de valor para analisar e controlar a conduta do professor/ preceptor e, consequentemente, as ações do aluno/ residente? Tal programa visa potencializar a ação docente ou servir como mais um dispositivo de culpabilização do professor? Há uma expectativa, ao final do programa de formação, do residente aquiescer com uma determinada lógica que comunga com uma certa visão de mundo? Todavia, ainda que haja todos esses pressupostos, o controle não é absoluto e não há garantia ainda que possa haver uma crença nela. O encontro entre as pessoas pode gerar fugas e rupturas. A dinâmica do conflito que se instaura entre os objetivos do programa e o convívio diário entre os participantes pode possibilitar outras formas de relação e construção das ações dos docentes e discentes. O elemento de potência reside nessa dinâmica: na arte do encontro, do contato. Na (re)construção, frequentemente, revisitada e, eticamente, ressignificada. Na compreensão da dinâmica do devir. Na incapacidade de se capturar a prática, ou melhor, a vida em movimento. Um extravasamento do contexto endógeno da universidade. Uma busca de um diálogo constante e não somente um uso momentâneo e utilitário do contexto escolar. Afirmar as dinâmica do devir e as dificuldades atreladas a essa condição é um risco. É soltar, ainda que de forma diminuta, as rédeas de condutas estanques, fixadas pela ancora de propostas tradicionais alicerçadas em princípios idealizados. Em tempos de exceção, a educação é um pilar, excessivamente, atacado e as tentativas de alteração são polimórficas. Em tempos de crise, os mecanismos de controle podem ser ampliados e, muitas vezes, apresentam-se de maneira atraente e sutil. Desse modo, atentos a esses possíveis movimentos, temos de potencializar a problematização e o excesso de criação. Suspeitar para potencializar outros corpos e outras formas de ser vida. Concluímos assim que a reflexão aqui proposta é apenas um esforço de operacionalização e suspeita no que tange as questões referentes à moral e ao programa anunciado. Não queremos com isso produzir uma afirmação sobre estes valores, muito menos ditar condutas para docentes, discentes e demais envolvidos. A proposta aqui anunciada possui mais dúvidas do que afirmações acerca da implementação. 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