O filósofo grego Platão tem fundamental importância quando falamos sobre os currículos ocidentais que possuem como elemento formativo central a matemática. Na Paideia platônica a matemática foi pensada com função predominantemente formativa, ou seja, a formação do homem cidadão para viver na pólis grega, pois ela busca educar para que se realize um modelo antropológico, o homem apolíneo, que aprende a avaliar e compreender o mundo de modo teórico, abstrato, através do uso da razão. O Livro VII da República, retrata a educação como a ascensão do homem da realidade sensível para a inteligível e a Alegoria da Caverna é apresentada como a grande metáfora desse processo educativo através da elevação do prisioneiro que se liberta e passa a "enxergar" o eterno e o imutável. A matemática para Platão constitui o conhecimento que prepara o homem para interpretar o mundo conceitualmente, abstratamente. Ao propor o itinerário formativo dos dirigentes da pólis, Platão propõe a matemática como eixo formativo central, pois esta é capaz de formar um homem capaz de ignorar os desejos corpóreos e superar a influência dos seus sentimentos, crenças e opiniões, agindo somente pelo uso da razão. Logo, a matemática apresenta, além de um caráter instrumental, formar homens aptos ao cálculo, uma face formativa, na medida em que forma o homem apolíneo.