O objetivo deste trabalho foi observar a tradução das letras das músicas disponíveis nas legendas interlinguais do filme Bicho de Sete Cabeças, de modo a identificar como o contexto imagético e narrativo corrobora para a compreensão e tradução das músicas, tendo como foco principal investigar o que deve ser representado em linguagem verbal (nas legendas) ou subentendido intersemioticamente através das imagens. A obra, baseada em um relato real, narra a história de Neto, um rapaz que se envolve com drogas e é internado em um hospital psiquiátrico pelo pai. A narrativa desenvolve-se a partir dos conflitos internos e externos da personagem: sua luta para sobreviver em um ambiente inóspito, em que recebe tratamentos subumanos, e seus esforços para provar que não é louco e escapar da tortura constante. As teorias que embasaram o estudo estão ligadas à Tradução Intersemiótica, ao Cinema e à Legendagem. Para atingir o objetivo principal, foram realizadas as seguintes tarefas: a) análise das legendas das músicas selecionadas, comparando-as às cenas da narrativa fílmica; b) comparação das legendas com as letras originais das músicas; e c) investigação sobre como as traduções representam as situações dramatizadas em termos de tradução intersemiótica. Metodologicamente, treze cenas que apresentavam músicas diegéticas (pertencentes à dimensão ficcional da obra) e extradiegéticas legendadas foram selecionadas. Após a seleção, as cenas foram capturadas com a ajuda do software Bandicam e compiladas de acordo com seus respectivos tempos. O corpus auxiliou na compreensão de como as legendas representam o que está disponível visualmente na tela e como as informações dramáticas das letras das músicas em português brasileiro são transferidas para a língua-alvo, a língua inglesa. Os resultados apontam que as músicas conseguem se relacionar de maneira sutil com o enredo, revelando uma dimensão mais pessoal das personagens que compõem a narrativa. Ao traduzi-las, o tradutor se preocupa não somente com os textos apresentados nas letras, mas com o contexto diegético em que estão inseridas. Há restrições e particularidades impostas tanto pela mídia cinematográfica quanto pelas línguas. Ambas são consideradas pelo tradutor, pois ele precisa construir enunciados curtos que sejam rapidamente apreendidos pelo público e que façam sentido em outra comunidade linguística. Surge, com essas restrições, uma dicotomia: forma versus conteúdo. Quando há na música uma ênfase na forma — com o uso de rimas, repetições, aliteração, paralelismo e outras figuras de linguagem —, o tradutor tem a opção de traduzir o texto de forma bastante experimental ou ignorar a forma e focar na mensagem do texto. Viu-se que, embora a última opção seja a mais empregada, o texto consegue ainda encontrar equivalências e transmitir a mensagem que foi pensada para este na língua fonte.