A psiquiatria, através de estratégias de normalização, fez do hospital psiquiátrico um lugar institucional que legitimou a expulsão da loucura do convívio social. O discurso psiquiátrico desprezou a subjetividade dos sujeitos em sofrimento psíquico, silenciou a sua voz e passou a centrar as suas práticas voltadas para a “doença mental”. A Reforma Psiquiátrica possibilitou o surgimento de um novo modelo de atenção à saúde, que tendo como foco o sujeito, implicou em mudanças nas práticas de cuidado em saúde mental. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é o de demonstrar que o uso da arte com finalidades terapêuticas possibilita a expressão da subjetividade, das emoções e do afeto, e permite que o sujeito possa transformar e (re)significar a sua realidade. A médica alagoana, Nise da Silveira, foi uma das primeiras a subverter a lógica psiquiátrica e passou a usar a arte no lugar dos “tratamentos” desumanos que ocorriam nos hospitais psiquiátricos. As suas práticas permitiram que o silêncio da loucura fosse rompido e a linguagem revelada, e foi através das pinceladas, traços e modelagens, que o inconsciente dos sujeitos em sofrimento psíquico foi acessado. Ao compreender a potência da arte em relação ao cuidado dos sujeitos que se encontram em sofrimento psíquico, realizei oficinas que utilizaram recursos artísticos durante a coleta de dados da pesquisa do mestrado em Psicologia da Saúde, da Universidade Estadual da Paraíba. As oficinas ocorreram no Centro de Atenção Psicossocial III Reviver, localizado na cidade de Campina Grande/PB. A oficina de arteterapia fez uso da pintura, da música e da dança, e permitiu com que os sujeitos pudessem desenvolver as suas potencialidades criativas e a espontaneidade. Os recursos artísticos propiciaram que os sujeitos narrassem histórias de vida, e, nesse processo, lembranças e afetos foram (re)significados. Importante ressaltar que a escolha dos materiais e das cores trouxe um conteúdo particular da vivência e das experiências de cada um. A música e a dança possibilitaram trocas afetivas, estabelecimento de vínculos e estreitamento dos laços. Durante toda a oficina a dimensão afetiva esteve muito presente, pois a pintura, a dança e a música foram acompanhadas de histórias, algumas vezes marcada por muita dor e sofrimento, e a oficina permitiu a (re)significação desses processos dolorosos, promovendo o cuidado. Nesse sentido, compreendemos que esta nova forma de se olhar e lidar com o sofrimento psíquico, através da arte, demonstra que o fazer criativo proporciona autoconhecimento, (re)significação da realidade, novos modos de subjetivação, fortalecimento de vínculos e afetos, e representa uma potente forma de cuidado em saúde mental.