A cultura lança sobre o idoso um estereótipo de sujeito que chegou no limiar da sua
existência e que, diferente da juventude, encontra-se cingido em praticamente todos os aspectos da sua
vida. Quando tocamos no quesito sexualidade, a velhice ganha um tom ainda mais depreciativo, tendo
em vista que ela é cultural, biológica e cientificamente reconhecida como a última fase de declínio da
sexualidade humana, de nulidade dos desejos sexuais, de castração fisiológica. Não é o caso do
personagem principal da narrativa Memórias de minhas putas tristes, pelo contrário, encontramos um
idoso com vivacidade, intelecto aguçado pela experiência, que desconstrói o entendimento equivocado
que o senso comum impõe à sexualidade na velhice, por meio da sua vontade de gozar, dentro da
subjetividade de um momento entre as improváveis ligações amorosas que essa personalidade
ficcional tenta a todo custo manter, tendo em vista que, apesar da decadência do corpo, sua vontade
ainda é jovem e é essa a motivação que o interpela a continuar na vida de outros a nossa própria
história. Para tanto, faremos uso de recortes da obra, tendo como foco a relação entre o Velho Sábio e
a jovem Delgadina, e recorrendo à teoria psicanalítica freudiana como baldrame analítico para o
entendimento dos desejos contidos nessa relação.