Ao longo dos séculos, a histeria se mostrou enigmática e resistente ao conhecimento científico. Desde os egípcios, mas, principalmente, nas culturas greco-romana, a hystera, como era conhecida inicialmente, sempre esteve imbricada com a sexualidade feminina, muito embora alguns de seus sintomas não apresentassem relações diretas com tal diagnóstico. Todavia, diante dos olhares perplexos de nomes da medicina clássica, como Hipócrates, esse fenômeno resistia a uma padronização ou suas formas de encenar as insatisfações femininas. No período do medievo, a igreja é incumbida do papel da medicina e, fazendo uso do discurso da salvação, considera os fenômenos histéricos como arquiteturas demoníacas erguidas sobre os pilares de uma sexualidade pecaminosa. Chegado o século XIX, a histeria começa a se desvincular das amarras da ignorância e do estigma marginalizado, a partir dos primeiros estudos de Jean Martin Charcot (1825-1893 e posteriormente com o jovem neurologista vienense Sigmund Schlomo Freud (1856-1939) que através de suas pacientes, estreita os laços entre o fenômeno de conversão e a feminilidade. Freud também se confronta com a irregularidade ou multiplicidades de manifestações sintomáticas, porém propõe a etiologia de tais manifestações a partir da história edípica de cada paciente. Através da interface literatura e psicanálise, propomos refletir acerca da arquitetura da feminilidade da personagem CDL, na obra A casa dos budas ditosos (19990, de João Ubaldo Ribeiro. Refletir a respeito de como se estabelecem os enlaces entre histeria e erotismo na estruturação psíquica da personagens é um dos motivos que nos motivam na formulação dessa pesquisa.