A intersexualidade envolve anatomias sexuais/reprodutivas congênitas que divergem do socialmente esperado para homens ou mulheres. As fronteiras que pretendem delimitar os corpos masculinos e os femininos ficam borradas, não sendo possível eleger um único caractere que defina o sexo. Os corpos intersex ocuparam lugares distintos ao longo da história da humanidade, no entanto os significados conferidos a estas corporeidades sempre convergiram no sentido da marginalização e desvalorização da diferença. No contexto da família o nascimento da criança intersex é envolvida pelo segredo e a manutenção deste se tornou uma prática respaldada pelo discurso comum aos profissionais de saúde. Neste estudo apresentaremos a atuação de uma equipe multiprofissional de um serviço que se tornou referência no atendimento às pessoas intersex. O destaque é dado à demanda de reformulação de saberes e práticas profissionais no atendimento a um jovem nascido com corporeidade intersex. A partir dos diálogos interdisciplinares oriundos desta experiência e de outros acompanhamentos às pessoas intersex foi possível a elaboração de uma cartilha para família de pessoas intersex.. Tem a equipe de saúde um papel primordial na desmistificação da condição de intersexo e na promoção da saúde integral das pessoas intersex. A integralidade se apresenta como um princípio fundamental contribuindo para promoção de uma vida digna. O horizonte para promoção da dignidade das pessoas intersex passa, entre outras instâncias, pela acessibilidade aos serviços de saúde. As tecnologias e terapêuticas precisam estar à serviço das pessoas intersex nas suas várias etapas da vida, mas devem situar-se a partir do compromisso ético de não medicalização ou mesmo da psicologização da vida. A interdisciplinaridade, nesta circunstância da intersexualidade, integra, além da construção de novas epistemologias, a reformulação de uma ética da dignidade.