No presente trabalho, o nosso olhar priorizou as intersecções entre crítica
cultural, crítica literária, literatura comparada e espaço biográfico. Dessa forma, os
pressupostos teóricos aqui privilegiados oferecem destaque às noções de "espaço
biográfico" (ARFUCH, 2010), “biografema” (BARTHES, 1990; DOSSE, 2007) e a
uma leitura que, impulsionada pela da noção de homocultura, juntamente à de
biografema, tem grande influência das escritas de si: o "biografema homocultural"
(MITIDIERI, 2013; 2014). Buscamos apoio do relatório da Comissão Nacional de
Verdade (que trata da ditadura civil-militar brasileira do período 1960-1980) utilizado
como fonte histórica, enfocando nesta obra a perseguição das travestis através da
censura, da violência física, institucional e simbólica promovidas pela ditadura civilmilitar
brasileira (período 60-80). Somando corpo à discussão textos de militantes da
pauta trans, analisaremos através do referido ferramental teórico e histórico, o conto:
“O amor grego”, de Aguinaldo Silva (1977). Foi eleita a abordagem biografemática
para priorizar a temática da perseguição sofrida pelos sujeitos de sexualidade fora
do padrão dentro do conto, que se deu através de um contexto de censura e de
violência dos seus corpos. Na discussão das relações dessa narrativa
contemporânea com o poder, a tradição, o cânone, a religião e as instituições,
identificamos como corpos e desejos se envolvem na trama estética, literária e
política, em que o falar de si da travesti Lena Lee parece afetar o programa de si, de
sua individualidade, de sua identidade e trocas culturais em um contexto
marginalizado.