Segundo Foucault (1987, p.148), a respeito da prática pedagógica e a vigilância hierarquizada por parte dos professores, “[...] uma relação de fiscalização, definida e regulada, está inserida na essência da prática do ensino: não como uma peça trazida ou adjacente, mas como mecanismo que lhe é inerente e multiplica sua eficiência”. A maioria das escolas entendem que para ter aprendizado, é fundamental que tenham o controle dos corpos dos alunos, implementando métodos de confinamento como forma de autoridade frente a população estudantil. Sabe-se que a educação não é privilégio da instituição escolar, isto é, ela acontece em diversos ambientes, nesse sentido, a classe hospitalar é vista como um local em que ocorre processos educacionais voltados para os sujeitos que se encontram hospitalizados. Os primeiros vestígios sobre a educação hospitalar aconteceram nos hospitais de Paris, no ano de 1935 com Henri Sellier e depois se estendem por toda Europa e Estados Unidos. Logo, a classe hospitalar funciona como uma escola dentro do hospital na qual os professores fazem atendimentos pedagógicos para as crianças internadas. No início da década de 50, no Brasil, as ações educacionais em hospitais passam a ter a configuração de classe hospitalar. Na esteira dessas ideias surge a seguinte problemática: Se na escola regular o aprisionamento dos corpos acontece “de fora para dentro”, ou seja, de maneira imposta e de caráter disciplinador, na classe hospitalar o aprisionamento dos corpos seria, talvez, de “dentro para fora”, sendo a patologia o fator que se incumbe de fazer com que ocorra esse aprisionamento? Este estudo objetivou verificar o discurso dos professores em relação ao trato do corpo dos alunos hospitalizados na classe hospitalar. As professoras tiveram que responder uma pergunta geradora e para efeito de análise foi utilizado a Técnica de Unidade e Significado (MOREIRA, SIMÕES E PORTO, 2005). Verificou-se que o discurso das professoras tendem ao aprisionamento dos corpos no sentido do afeto, contato físico, cuidados clínicos que possivelmente afetam o “fazer” das atividades pedagógicas.