A discussão acadêmica sobre a “identidade epistemológica da Educação Física” no Brasil foi intensamente debatida nas décadas de 1980 e 1990. Na ocasião, diversos autores, como Go Tani, Manuel Sérgio, Hugo Lovisolo, Mauro Betti e Valter Bracht, contribuíram para um amadurecimento epistemológico da área. Diante disso, pode-se afirmar com veemência, que a Educação Física se caracteriza como uma área de conhecimento profissional-pedagógica de intervenção que tematiza a cultura corporal de movimento (o jogo, esporte, dança, luta, exercício físico, etc). Todavia, questiona-se: em que medida os periódicos classificados em estratos superiores do Qualis-Capes contemplam a especificidade da área de estudos e intervenção da Educação Física? Vale ressaltar que em diversos documentos oficiais da Capes não está claro qual “marco epistemológico” adotado para caracterização da área. Ora, como tal informação encontra-se obscura nos documentos oficiais, o objetivo do estudo é caracterizar os objetos epistemológicos presentes nos periódicos científicos nos estratos do Qualis-Educação Física. Nesse sentido, o método adotado para esta investigação possui caráter quanti-qualitativo com os seguintes procedimentos: (i) levantamento de periódicos de estratos superiores (A1 e A2) do Qualis-Educação Física – parte-se do pressuposto que periódicos de estratos superiores devem ou deveriam guardar maior relação com a identidade epistemológica da área; (ii) busca de expressões-chaves nos títulos dos periódicos que caracterizem a especificidade da área; (iii) separação de palavras em Campos Semânticos; (iv) interpretação dos dados à luz da literatura consultada. Os resultados demonstram predominância de periódicos científicos relacionadas às ciências médicas em comparação às demais especificidade da área. Dos 175 periódicos presentes nos estratos A1 e A2, apenas dez deles possuem vinculações mais claras com as Ciências Humanas, sendo seis periódicos da Psicologia/Psicologia do esporte e apenas quatro relacionadas a “Educação Física e Esporte” em uma perspectiva sócio-cultural/pedagógica. Diante disso, se o sistema Qualis-Capes omitia uma concepção de Educação Física, os dados da atual investigação desvelaram uma redução do objeto epistemológico às ciências médicas e biológicas; e, portanto, um problema de hegemonia e submissão da Educação Física aos métodos, procedimentos e status de uma outra área de maior influência social, como é o caso das Ciências Médicas. Conclui-se que o Qualis-Capes não contempla a Educação Física como uma área de intervenção profissional-pedagógica e nem valoriza seu caráter multidisciplinar.